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Carta Aberta aos Madeirenses e Porto-santenses

Deixem-me dizer-vos que aderi ao PAN, “minutos” após a sua fundação, não só porque conhecia bem um dos seus fundadores e primeiro líder nacional, o Professor Paulo Borges, assim como, após ter-me inteirado da filosofia política que o novo partido trazia, a minha consciência logo me disse que a minha participação era obrigatória. O partido começou como PPA Partido pelos Animais, mas rapidamente percebeu que o caminho era a complementaridade entre as Pessoas, os Animais e a Natureza, passando então a denominar-se PAN.

Nessa trilogia, a ética era o elemento estrutural da ideologia do partido. Pela minha experiência pessoal, tanto interna, como externamente, confirmo que esse era o eixo orientador. Na Região Autónoma da Madeira (RAM), houve, como é natural e saudável em democracia, divergências de opinião, mas sempre foram dirimidas dentro da legalidade formal e das regras democráticas. Ora o que se assistiu no PAN Madeira, com a substituição à última hora, do cabeça de lista Joaquim Sousa, à data Porta Voz Regional do partido, pela então número dois da lista, não é na minha opinião, um episódio de fácil compreensão. Desde logo porque não se aprova um nome, regional e nacionalmente, para “em cima” da data de entrega das listas, ser substituído pela pessoa que o segue na lista. A menos que algo de muitíssimo grave ocorra. Que se saiba, houve uns desentendimentos menores, mas daí, até se tomar uma decisão com a radicalidade da que foi tomada, vai uma enorme distância. Relembro-vos que Joaquim Sousa já havia sido apresentado publicamente como cabeça de lista e dado entrevistas nessa qualidade. Há quem defenda que sempre houve a vontade de afastar o antigo porta voz, e que, à menor oportunidade de fazê-lo, se essa intenção ganhasse aliados locais, iria para a frente como foi. Foi uma decisão de contornos “indecifráveis” e arriscada, que aqueles que a apoiaram e suportaram porventura dirão: foi uma decisão acertada, porque o objetivo de eleger foi alcançado. Não meus caros, não foi. Na vida, e na política que faz parte da vida, não vale tudo. A ética, deve obrigatoriamente, ser um valor inalienável, pois só assim poderemos garantir isenção, integridade e compromisso, dimensões que através da política, devem estar aliadas a uma genuína vontade de servir os outros. Depois, para coroar o episódio da substituição do cabeça de lista, surge a decisão de apoiar o governo PSD-CDS, através de acordo parlamentar. Mas se já havia ocorrido algo censurável, com este apoio a sequenciar o episódio anterior, o cenário fica turvo. É que o PAN até há pouco tempo, sempre esteve do outro lado da barricada, porque sabia que o jogo da democracia não é perfeito, e como em qualquer jogo, há regras que podem atenuar a existência de potencial “batota”, e no caso, uma das regras básicas é a alternância no poder. Ora o partido que lidera a coligação que o PAN Madeira agora decidiu apoiar, está no poder há 47 anos consecutivos. Uma democracia onde a alternância no poder não se verifica, é uma democracia doente, sendo evidente que há qualquer coisa no “reino”, que não está bem. Ou melhor, o jogo da democracia, não está a funcionar plenamente, revelando uma necessidade de ajustamento. Mas o PAN, “sabe se lá porquê”, decide dar uma volta de 180.° graus e ser ator de destaque, ao contribuir para que essa regra básica e essencial, não seja atendida. Ao fazê-lo, criou uma enorme indignação no eleitorado que em si votou, pois quem o fez, não votou para que o partido viabilizasse um governo PSD-CDS. Se era essa a intenção, tivessem-no dito aos eleitores no decorrer da campanha eleitoral. Sobre o PSD Madeira, para já, fez o seu trabalho e pelos vistos, no imediato resultou. Mas o futuro poderá revelar-se incerto, e nós, cá estaremos para ver.