“Há especialidades que há dez anos não recebem internos na RAM”
Secretário da Saúde considera “inadmissível” a situação da saúde em Portugal continental
O secretário regional que tutela a Saúde, Pedro Ramos, aproveitou a cerimónia de abertura do II Congresso de Cardiologia da Madeira, a decorrer hoje e amanhã no Hotel Meliá Madeira Mare, no Funchal, para fazer um ‘raio x’ ao estado da saúde pública na Região e tecer criticas ao inadmissível estado do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Queremos seguir um caminho diferente daquele que se passa a nível nacional neste momento”, começou por ser a tónica do governante, que reconheceu que a cardiologia “tem sido uma especialidade que tem sido prejudicada”, uma vez que “o número de entradas não corresponde a aquilo que são as nossas aspirações”, apontou.
Depois de dar conta que tem tentado “anualmente que mais internos de Cardiologia possam vir para cá”, o governante revelou que “há especialidades que há dez anos não recebem internos na RAM”.
Desde logo ao dar conta que “o Serviço de Cardiologia tem apenas dez assistentes hospitalares, quando devia ter 20”, reclamou.
Ainda assim, fez saber que o Serviço de Cardiologia “tem 116 profissionais” nas diferentes valências, que “3.300 doentes são acompanhados por ano”, resultado das “6.000 consultas anuais” e dos “1.700 internamentos por ano”, enumerou.
Referiu-se depois à crescente aposta na articulação entre o Serviço de Emergência Pré-Hospitalar e a resposta final do sistema, que é o hospital, para perspectivar que as cerca de 200 paragens cardiorrespiratórias por ano ocorridas na Madeira “possam começar a ter outro tipo de resultado em termos de morbilidade e de mortalidade”, manifestou.
O reconduzido secretário regional da Saúde e Protecção Civil mostra-se confiante que a política de saúde que tem sido seguida na Região comprova que “estamos no rumo certo”, sendo certo que há problemas que importam ser mitigados através do reforço de mecanismos para que seja possível oferecer uma melhor resposta.
Neste particular destacou a crescente integração de cuidados, nomeadamente ao nível de cuidados de saúde primários, onde deu a garantia que “em Janeiro [de 2024] vamos ter cerca de 191 médicos de família a trabalhar na RAM”, ano onde espera alcançar 100% de cobertura.
Admitiu que a culpa possa ser do sistema, nomeadamente da falta de literacia, no que diz respeito à alta a mortalidade nas doenças cardiovasculares, uma vez que 80% destas são evitáveis. “Com medidas certas vamos reduzir a morbilidade e a mortalidade”, disse.
Nesta área regozijou-se com a “mais-valia” que trouxe o serviço de cirurgia cardiotorácica.
Na longa intervenção Pedro Ramos aproveitou para criticar o estado da saúde em Portugal continental. “Não é admissível ver o que estamos a assistir”, afirmou, referindo-se aos 27 hospitais com constrangimentos. Para o secretário regional da Saúde “é impensável” ver no Sistema Regional o ‘caos’ em que está envolvido o SNS.