Rússia e ONU vão discutir futuro do acordo dos cereais
Dois altos dirigentes das Nações Unidas vão discutir na próxima semana em Moscovo o futuro do acordo sobre os cereais ucranianos, de que a Rússia se retirou em julho, anunciou hoje a diplomacia russa.
Trata-se do subsecretário-geral para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, e da secretária-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Rebeca Grynspan, precisou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Serguei Vershinin.
A chegada de Griffiths e Grynspan a Moscovo está prevista para segunda-feira, disse Vershinin, citado pela agência espanhola EFE.
"Vamos realizar consultas sobre a segurança alimentar e, mais uma vez, afirmar a nossa posição e a nossa avaliação sobre toda a gama de questões" relativas à questão, afirmou Vershinin, um dos 11 adjuntos do ministro Serguei Lavrov.
Vershinin disse que, apesar de Moscovo se ter retirado do acordo, mantém-se em vigor um memorando de três anos entre a Rússia e a ONU.
O memorando estipulava que a Rússia poderia exportar produtos agrícolas e fertilizantes, assim que os obstáculos logísticos e bancários relacionados com as sanções ocidentais fossem eliminados.
A Rússia queixou-se de que esta parte nunca foi cumprida e anunciou, em 17 de julho, a suspensão da participação no acordo dos cereais.
Os acordos assinados em Istambul, em julho de 2022, permitiram exportar mais de 32 milhões de toneladas de produtos alimentares a partir de três portos ucranianos do Mar Negro para 45 países em três continentes, segundo a ONU.
Os cereais estavam bloqueados devido à guerra que a Rússia iniciou contra a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022.
Desde que abandonou o acordo, a Rússia atacou portos fluviais e infraestruturas de cereais na Ucrânia, o que lhe valeu acusações de agravar a insegurança alimentar no mundo.
O acordo é considerado crucial para o abastecimento e a segurança alimentar mundial, dado que Ucrânia e Rússia são dois dos maiores produtores agrícolas.
Antes da guerra, forneciam, em conjunto, 28% do trigo consumido no mundo, 29% da cevada, 15% do milho e 75% do óleo de girassol, segundo a revista britânica The Economist.
Para voltar ao acordo, Moscovo exige que o banco agrícola Rosselkhozbank volte a ser ligado ao sistema SWIFT, a rede internacional que permite transações financeiras interbancárias, de que foi suspenso no âmbito das sanções.
Exige também o levantamento das sanções sobre peças sobressalentes para máquinas agrícolas, o desbloqueio da logística de transporte e dos seguros, e a retoma do funcionamento do gasoduto de amoníaco Togliatti-Odesa, que explodiu em 05 de junho.
Lavrov disse no final de setembro que a Rússia regressará ao acordo sobre os cereais no dia em que as condições russas forem cumpridas.
"Vamos alcançar resultados para que os nossos produtos agrícolas e fertilizantes não estejam sujeitos a sanções, e depois podemos falar sobre retomar algumas outras partes dos acordos de Istambul", disse hoje Vershinin.
Os aliados ocidentais de Kiev têm imposto sucessivos pacotes de sanções económicas a Moscovo para tentar diminuir a capacidade russa de financiar o esforço de guerra contra a Ucrânia.
Têm igualmente fornecido armamento à Ucrânia para combater as forças russas.