Aceitem que dói menos
Num bosque sereno e coberto de árvores imponentes, vivia um esquilo chamado Nutkin. Ele era respeitado por todos os animais do bosque, e sendo uma criatura de grande experiência e perspicácia, conseguiu estender o seu domínio por mais de quatro décadas. Durante este longo período, Nutkin governou o bosque gozando de forte apoio da grande maioria dos animais que ali vivia. Este exemplo de longevidade foi causando perplexidade e incompreensão a muitos dos animais dos bosques vizinhos, até que Nutkin decidiu que havia chegado o momento de entregar o governo do bosque a outro esquilo.
Foi nesse momento que se espalhou o vaticínio do fim da liderança dos esquilos, anunciado tanto pelos restantes grupos de animais locais, como pelos animais dos bosques circundantes. A verdade é que os animais daquele bosque, voltaram a dar a liderança aos esquilos. O processo de renovação deixou algumas marcas irreparáveis no grupo dos esquilos, mas isso até já era esperado, como consequência da longa liderança de Nutkin. O grupo dos esquilos entrou numa fase menos positiva, pois não conseguiram reunir o apoio da maioria dos animais do bosque, e por isso, tiveram necessidade de estabelecer uma parceria com as ovelhas, um grupo que até ao momento era seu concorrente. Essa aliança entre os esquilos e as ovelhas atingiu particularmente o grupo das raposas, causando-lhes enorme perplexidade e amputando-lhes qualquer tipo de espectativa de alcançarem o poder do bosque.
À medida que as estações mudaram, a liderança dos esquilos, já sem Nutkin e com as ovelhas, foi enfraquecendo progressivamente. Os animais do bosque, em sintonia com os ritmos naturais da vida, começaram a procurar alternativas que se adequassem melhor ao evoluir das suas necessidades. As raposas, que se somaram aos restantes grupos de animais na intriga contra os esquilos, sofreram o maior revés na mais recente disputa para a liderança. As raposas perderam mais da metade de seus apoiantes, abrindo a porta para que novos grupos de animais obtivessem assento nas reuniões do bosque. A entrada destes novos grupos de animais não simbolizou o desejo por uma nova liderança, mas sim, o desejo por um grupo de oposição realmente capaz.
Para as criaturas dos bosques vizinhos daquela floresta, permanece o enigma perpétuo. Eles não conseguem entender como é que o grupo dos esquilos mantém o controlo sobre o bosque durante tanto tempo. No entanto, os sábios habitantes do bosque julgaram que as suas escolhas deveriam ser moldadas pela sua história única, pelo fluxo e pelos ventos das estações, bem como pelas suas necessidades e aspirações em constante mudança.
A recente liderança dos esquilos, chegou como um lembrete de que o curso da política de um bosque, é semelhante à intrincada dança da própria natureza—uma tapeçaria complexa tecida pela vontade coletiva dos seus habitantes. O que parecia desconcertante para os forasteiros era, na verdade, um reflexo da dinâmica multifacetada dentro da sua própria floresta, onde as folhas sussurrantes guardavam os segredos de um governo atemporal.