Trinta anos, várias catástrofes, a mesma dedicação
Ao atual comandante, coronel João Bernardino, agraciado com a Ordem Militar de Avis a minha vénia
O Regimento de Guarnição nº3 fez 30 anos no dia 1 de Outubro. Tive o privilégio de acompanhar o percurso desde o primeiro dia e hoje posso falar com propriedade do que vi e do altruísmo e dedicação dos militares, quando foram postos à prova nos momentos mais difíceis da história recente da Madeira. O primeiro teste veio ainda nesse mês, quando a 29 de Outubro de 1993 a cidade acordou inundada de lama até as entranhas.
Pelo caminho, senti um profundo orgulho em entrevistar várias mulheres que por ali passaram, incluindo as primeiras madeirenses a vestir o camuflado verde e uma vaidade ainda maior quando entrevistei uma mecânica, no Kosovo, em 2007. Afinal, elas faziam o que eles faziam e o tempo provou isso mesmo.
Três anos depois, quando o Funchal acordou naquele sábado virado do avesso e as casas da Serra de Água pareciam as de um jogo do monopólio quando se amontoam as peças dentro do saco, os militares lá estavam.
O RG3 foi sempre um porto de abrigo, principalmente quando as palavras de ordem eram realojar, ajudar, arregaçar as mangas. O 20 de Fevereiro de 2010 foi, ainda não sabíamos, o primeiro de vários anos terríveis, com incêndios a queimarem a alma do Funchal e de diversos concelhos e o quartel foi a porta onde não era preciso bater, porque estava sempre aberta para receber a população.
Hoje, trinta anos depois daquele juramento de bandeira a 29 de Outubro, quando os militares acabaram a formatura e correram para o centro, a tropa já não é o que era, mas o Regimento tem muitos momentos que não podemos esquecer. Recentemente, abriu portas a dezenas de desalojados de um aluimento de terras no Funchal e mesmo que os rostos já não sejam os do tempo do Serviço Militar Obrigatório, a dedicação é igual. Nas horas difíceis para a Madeira há sempre quem arregace as mangas e apareça à porta do quartel mesmo sem ser chamado.
Ao longo de três décadas, vi de tudo. Um comandante despedido por telefone, um que acabou por ser o 2º Comandante da missão da ONU na República Centro-Africana e até quem tenha tido direito a levantamento de rancho. Quando o RG3 celebra 30 anos de apoio aos madeirenses, é justo que se faça a devida homenagem a quem por ali passou e ajudou a recompor famílias, confortar idosos, animar crianças.
Ao atual comandante, coronel João Bernardino, agraciado com a Ordem Militar de Avis, correu meio mundo com as forças nacionais destacadas e um dos mais condecorados militares portugueses ao longo da inigualável carreira, a minha vénia. Sei que está longe dos tiros e das decisões difíceis que teve de tomar em Bangui, para salvar populações. Era matar ou morrer. E hoje, com os militares do RG3, continua pronto para o que for preciso, sendo mais um madeirense de coração.