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Sobrecarga turística de Lisboa não resulta do turismo de cruzeiros

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Foto Orlando Almeida / Global Imagens

A sobrecarga turística da cidade de Lisboa não resulta do turismo de cruzeiros, concluiu hoje a assembleia municipal, numa análise entre 2014 e 2022, recomendando à câmara o acompanhamento da estratégia de crescimento do Porto de Lisboa.

Segundo o relatório de acompanhamento "Lisboa e os Cruzeiros", apresentado pelo deputado do PS Pedro Roque Domingues, com base em dados disponibilizados pela Lisbon Cruise Port, entre 2014 e 2022, "o turismo de cruzeiros não contribui para a sobrecarga turística da cidade de Lisboa".

"Pelo contrário, reduz a sazonalidade e proporciona um fluxo mais constante de turistas. Os picos de afluência registam-se na primavera (abril e maio) e no outono (setembro, outubro e novembro), diminuindo significativamente no verão, altura em que a carga turística global proveniente dos restantes setores é maior", lê-se no relatório.

O setor dos cruzeiros representa, em média, 5% do total de dormidas/estadias nos meses de maior afluência, descendo para cerca de 1% nos meses de junho, julho e agosto, é referido no documento, indicando que, de acordo com questionários feitos por investigadores, "uma família gasta, em média, 164 euros por estadia, 75 euros no caso de um navio em trânsito e 773 euros se estiverem em situação de embarque/desembarque em Lisboa".

"Quando considerados os efeitos diretos, indiretos e induzidos, o setor dos cruzeiros gera 840 milhões de euros de produção, 336 milhões de euros de valor acrescentado e 8.863 postos de trabalho", indica o relatório, acrescentando que tal se traduz num impacto de 0,16% no PIB nacional e quase 1,4% no valor acrescentado do município de Lisboa (0,74% do valor acrescentado da Grande Lisboa).

Relativamente às questões ambientais, o Porto de Lisboa e o Terminal de Cruzeiros têm planeado um conjunto de investimentos em tecnologias verdes e sustentáveis, inclusive 37 milhões de euros na eletrificação (Onshore Power Supply), que se estima operacional em 2026.

No âmbito deste relatório, a assembleia municipal aprovou uma recomendação dirigida à câmara para "acompanhar a estratégia de crescimento do Porto de Lisboa, tanto no âmbito quantitativo como qualitativo".

A recomendação foi aprovada por maioria, com a abstenção do MPT e os votos a favor dos restantes, designadamente BE, Livre, PEV, PCP, dois deputados do Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre), PS, PSD, PAN, Iniciativa Liberal (IL), PPM, Aliança, CDS-PP e Chega.

José Inácio Faria, do MPT, justificou a abstenção por discordar com os dados apresentados sobre o impacto ambiental.

"Não pactuamos com branqueamento de uma infraestrutura que, em comparação com as suas congéneres europeias, não cumpre com a legislação europeia", disse.

Entre as recomendações está investir na diversificação da oferta turística adaptada à sazonalidade do setor dos cruzeiros; contribuir para o desenvolvimento de uma estratégia que permita aumentar os embarques/desembarques no Porto de Lisboa, em detrimento do modelo 'stopover', e criar rapidamente condições para o fornecimento de energia elétrica aos navios atracados no Terminal de Cruzeiros de Lisboa.

Na reunião da assembleia, no período de intervenção aberto ao público, a munícipe Alcina Lourenço, que foi despejada na semana passada juntamente com o marido e o pai, de 89 anos, interveio para pedir "uma solução urgente até sábado", dia em que a família terá de sair do alojamento local onde tem pernoitado desde o despejo.

Em representação das associações Stop Despejos e Habita, Leonor Coimbra exigiu soluções de habitação para as famílias despejadas, intervenção que terminou com meia dúzia de pessoas a gritar: "Stop despejos, direito à habitação".