Hoje, muitas centenas de madeirenses, sobretudo os mais jovens, vão celebrar o ‘Halloween’ ou ‘Dia das Bruxas’. Com maior ou menor caracterização, quem sai à rua vai cruzar-se certamente com alguém com aspecto de zombie, fantasma, drácula, vampiro, morto-vivo ou bruxa. Apesar da grande adesão à festividade, trata-se de uma celebração muito recente na Madeira.
Na verdade, o ‘Halloween’ não tem qualquer ligação à nossa Região, nem mesmo ao nosso país. Em Portugal o 31 de Outubro foi sempre uma data especial mas por outro motivo. Trata-se da véspera do Dia de Todos os Santos, feriado cristão que é dedicado a lembrar os mortos. No também designado ‘Dia de Finados’ muitas famílias visitam os cemitérios onde se encontram os restos dos parentes falecidos.
O ‘pão-por-Deus’ é outra vertente desta celebração, com as crianças a pegarem em pequenos sacos feitos de pano e a pedirem pela vizinhança fruta (castanhas, nozes, figos, maçãs, etc.). É uma prática que tem vindo a cair em desuso, pese embora o empenho das escolas em assinalar a tradição.
O que segue em sentido contrário, com crescente adesão popular, é a celebração do ‘Halloween’. Embora com algumas ligações históricas ao Dia de Todos os Santos e a tradições inglesas e irlandesas, é hoje uma festa pagã, com intensa exploração comercial, que, nos seus moldes actuais, tem origem nos Estados Unidos da América e daí difundiu-se por todo o mundo na fase final do século XX. As pessoas fantasiam-se e encarnam personagens assustadoras ou que fazem lembrar a morte. As crianças fazem uma espécie de peditório de porta em porta em que dão a escolher aos interlocutores entre lhes darem um doce ou serem vítimas de uma partida (‘trick or treat’).
O primeiro contacto que os madeirenses terão tido com este fenómeno terá sido pela via cultural e de forma muito indirecta. Pelos cinemas da Região e depois pela TV passou o filme de terror ‘Halloween – O Regresso do Mal’. A obra de John Carpenter remonta ao ano de 1978 mas só passou pelas salas do Funchal (Cine Parque e Teatro Municipal) em Dezembro de 1980.
Poucos anos depois, nas aulas da disciplina de Inglês e no âmbito da introdução às tradições e à cultura popular anglo-saxónicas, já era frequente os alunos madeirenses participarem em actividades (desenhos, composições, concursos, feiras, etc.) que tinham como temática o ‘Dia das Bruxas’.
Ainda de forma indirecta, em 1994 nascia uma banda de jovens músicos no Funchal que para a escolha do seu nome foi buscar inspiração a esta mesma celebração. Eram os ‘Trick or Treat’, que tinham como formação inicial Filipe António (vocalista), Vasco (baixo), Ferdinando (guitarra solo), Bruno (guitarra ritmo) e João (bateria). O grupo ainda durou alguns anos e descrevia que o seu visual inspirava-se no “espírito de Halloween”.
Mas há uma data, um local e um responsável pela introdução da celebração do ‘Halloween’ na Madeira. Aconteceu na noite de 31 de Outubro de 1995, na discoteca ‘Farol’ (integrada no Hotel Pestana Carlton) e foi uma ideia do disc-jockey João Canada.
Conforme o próprio DJ relata na sua página no Facebook, “apenas três a seis bruxas tiveram coragem de aparecer de ‘vassoura na mão’ ao apelo” feito para aparecerem com disfarce alusivo à comemoração. “No ano seguinte, a nossa persistência aumentou e já lá tínhamos 20 a 30 bruxas, vampiros e dráculas. Em mais nenhum sítio (bares e discotecas da Madeira) se realizavam estas Festas de Halloween (bares e discotecas)”, prossegue o animador, que é também locutor de rádio e do Estádio do Marítimo. “No terceiro ano, o sucesso foi estrondoso! Concurso com bons prémios, fins-de-semana no Hotel Carlton para duas pessoas e discoteca ‘O Farol" completamente cheia de vassouras, bruxas, vampiros e dráculas. Um verdadeiro Carnaval negro, mágico, loucura assustadora. Daí para a frente, outras casas na Madeira começaram timidamente a realizar as suas primeiras ‘Festas de Halloween’, que depois pegou moda e hoje é das noites mais excitantes e memoráveis para fazer divertir uma cidade de Turismo, capital da animação, o Funchal”, completa João Canada.
Resta acrescentar que além de noite temática nas discotecas e bares do arquipélago, o Dia das Bruxas é celebrado nalgumas escolas e, nesta altura do ano, provoca um aumento da procura de uma parafernália de adereços e disfarces nas lojas da especialidade.