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ONU rejeita que elevado número de crianças mortas em Gaza seja "dano colateral"

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Foto AFP

O líder da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), Philippe Lazzarini, rejeitou hoje que as quase 3.200 crianças mortas em Gaza pelos ataques israelitas sejam um "dano colateral" e alertou para o "nível de destruição sem precedentes" no enclave.

"O nível de destruição não tem precedentes, a tragédia humana que se desenrola sob a nossa vigilância é insuportável", disse Lazzarini numa reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, classificando como "chocantes" quer os "horríveis ataques" de 07 de outubro do grupo islamita Hamas em território israelita, quer os "incansáveis bombardeamentos" das forças israelitas na Faixa de Gaza.

De acordo com o comissário geral da UNRWA, citando dados da organização não-governamental Save the Children, quase 3.200 crianças foram mortas em Gaza em apenas três semanas de conflito.

"Isto ultrapassa o número de crianças mortas anualmente nas zonas de conflito do mundo desde 2019. Isto não pode ser um 'dano colateral'", defendeu.

Igrejas, mesquitas, hospitais e instalações da UNRWA, incluindo as que abrigam pessoas deslocadas, não foram poupadas nos ataques, observou o comissário geral, acrescentando que "demasiadas pessoas foram mortas e feridas enquanto procuravam segurança em locais protegidos pelo direito humanitário internacional".

"O atual cerco imposto a Gaza é um castigo coletivo", reforçou.

Além da grave situação humanitária, fortemente afetada pela falta de serviços básicos, de medicamentos, comida, água e combustível, outros problemas começam a surgir em Gaza, onde os esgotos começam a transbordar para as ruas, situação "que muito em breve causará um enorme perigo para a saúde", disse.

Também o apagão das comunicações durante o fim de semana gerou o caos, acelerando o colapso da ordem civil, levando milhares de pessoas desesperadas a dirigirem-se aos armazéns e centros de distribuição da UNRWA para procurar alimentos e produtos básicos.

"Um novo colapso da ordem civil tornará extremamente difícil, se não impossível, que a maior agência da ONU em Gaza continue a funcionar", alertou Lazzarini referindo-se à UNRWA, "a última tábua de salvação que resta para o povo palestiniano em Gaza" e que já perdeu 64 trabalhadores nos ataques israelitas, o maior número de trabalhadores humanitários da ONU mortos num conflito num tão curto espaço temporal.

O líder da UNRWA disse ainda que os poucos comboios humanitários autorizados a passar pela passagem de Rafah não são "nada comparado com as necessidades de mais de dois milhões de pessoas presas" em Gaza.

"O sistema em vigor para permitir a ajuda a Gaza está fadado ao fracasso, a menos que haja vontade política para tornar o fluxo de abastecimento significativo, correspondendo às necessidades humanitárias sem precedentes", sublinhou.

Traçando um perfil da população de Gaza, Lazzarini disse perante o Conselho de Segurança que são pessoas "vibrantes e instruídas que aspiram a ter vidas normais, famílias, filhos, educação e sonhos de um futuro melhor", lamentando que essa população inteira esteja a ser "desumanizada".

"Eles sentem que o mundo os está a equiparar ao Hamas. (...) As atrocidades do Hamas não isentam o Estado de Israel das suas obrigações ao abrigo do direito internacional humanitário. Toda a guerra tem regras e esta não é exceção", reforçou.

Também Catherine Russell, diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), participou na reunião de emergência do Conselho de Segurança sobre a situação em Gaza, onde implorou a este órgão da ONU que adote imediatamente uma resolução que lembre as partes das suas obrigações ao abrigo do direito internacional.

Russell pediu uma resolução que exija ainda um cessar-fogo, que as partes permitam um acesso humanitário seguro e desimpedido, que exija a libertação imediata e segura de todas as crianças raptadas e detidas, e que inste as partes a conceder às crianças a proteção especial a que têm direito.

"O presente e o futuro dos palestinianos e dos israelitas dependem disso. Exorto todos os estados-membros a mudarem a trajetória desta crise e a trabalharem no sentido de uma solução política genuína, antes que seja tarde demais", apelou Russell.

A UNICEF frisou que as crianças, israelitas e palestinianas, estão a sofrer traumas terríveis, cujas consequências podem durar a vida toda.

A reunião de emergência do Conselho de Segurança foi convocada pelos Emirados Árabes Unidos para discutir a situação em Gaza, sendo a quinta vez que os membros do Conselho se reúnem para discutir este assunto desde os ataques em grande escala de 07 de outubro contra Israel liderados pelo Hamas.