Relâmpagos
Pessoalmente, encaro 2024 como de Centenário do Nascimento de Amílcar Cabral e, em coerência, saberei honrar a minha dívida histórica. Não se trata de fazer culto de personalidade ou de endeusar teses políticas de outrora (ou mesmo, de agora), mas de louvar um legado crítico e filosófico que, com todo o seu processo dialético, nos torna esta Querência de um Cabo Verde com melhor soberania, democracia e desenvolvimento. O fazer “uma outra terra na nossa Terra” não será este marasmo, mas o poder ir mais, muito mais além do sofrível.
Não há dúvida que precisamos de uma cidadania com mais vigor e audácia. Uma cidadania capaz de pensar, criticar e cambiar o estado das causas e das coisas. Uma cidadania corajosa, disposta ao risco e ao custo de separar o trigo do joio (e não o joio do trigo, como se vê no dia-a-dia). A vez não pode continuar a ser o estabelecido por um pacto social mal-amanhado, mas o de um espaço maior (e mais radicalizado) para a cidadania. Se não me fiz entender...acrescentarei um desenho!
Uma reportagem televisiva, que assisto ao dealbar deste sábado, confirma o mundo cada vez mais em guerra e em barbárie. Medonho o ser humano, tornado monstro em pessoa. Medonha a vida ou a morte sem justa medida. Perante o veneno do ódio fratricida e a demência da guerra imperialista – a desumanidade extravagante de uns e outros -, como não estar em estado de náusea?
Cooperar para o desenvolvimento ou para a segurança coletiva, exige-nos superar a superficialidade do espírito e sublimar a “mentalidade escravizada”. Política externa requer firmeza de princípios e valores, conhecimento de interesses e relações de força, foco na geopolítica e geoestratégia. Requer também a consciência crítica de estarmos no Atlântico Médio e disto ser uma oportunidade e uma responsabilidade a não desperdiçar. O que ganhamos em sermos intermediadores isentos e imparciais? Não falo em sermos necessariamente neutros, mas sérios e credíveis, independentes a sério. Estarmos no Paralelo Cabo-verdiano, um luxo...sem subserviência!
Se Deus no assento etéreo (figura sagrada, grada e de bem) intui todos os povos escolhidos e a cada pródigo a sua casa do regresso. Se, como O idealizo, não descrimina, nem admite Apartheid, partilhando (liberdade, igualdade, fraternidade) direito à sublimação e redenção, paixão e compaixão. Poderá haver ironia nestes versos de Allen Ginsberg: “Everything is holy! everybody’s holy! everywhere is holy! everyday is in eternity! Everyman’s an angel!”, mas todo o ser é sagrado. Seja a morte da poeta Heba Abu Nada um esgar sagrado, que lhe debito honrosa memória. Entrementes, a vida continuando pela hora da morte e, a ser assim tomada de cabalas, o poema de Ginsberg ainda intuindo “The tongue and cock and hand and asshole holy!” Que viva a Poesia!