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Crónicas

O lugar do morto

Em 1984 António Pedro Vasconcelos marcava o cinema português com o filme “O lugar do morto”, num exercício que misturava mistério, desejo e caras conhecidas do grande público de então. Durante muitos anos esteve no topo dos filmes portugueses mais vistos de sempre, com uns impressionantes mais de 270 000 espectadores.

Passados quase quarenta anos, o lugar do morto virou filme contemporâneo, com um protagonista falecido no verão de 1900, Eça de Queiroz. O ilustre escritor - que gravou com letras de ouro o seu nome na literatura portuguesa - foi consagrado com a homenagem definitiva em forma de honras de Panteão Nacional para os seus restos mortais. Em Lisboa, naturalmente. Faleceu em Paris, o regresso póstumo à capital foi um acontecimento à época, permanecendo por lá quase noventa anos. Depois nova viagem, agora até Baião, distrito do Porto. Mais de trinta anos passados Lisboa volta a chamar pelo que sobra de Eça de Queiroz.

Este movimento centrípeto que orquestra as dinâmicas do País é conhecido, reconhecido e tantas vezes criticado, ouvindo-se vozes de todos os lados do reino, ilhas incluídas. Na verdade nem os mortos são poupados. Se o destaque é merecido pelo relevo maior da figura de Eça de Queiróz, não deixa de ser estranho que “o lugar do morto” esteja condicionado aos ditames de Lisboa. E o homem até queria descansar eternamente em Verdemilho, concelho de Aveiro. De Lisboa nunca morreu de amores.