Sector privado tem de aumentar o montante para o financiamento climático
O Fundo Monetário Internacional (FMI) defendeu que o financiamento dos investimentos em adaptação e mitigação das alterações climáticas deve vir do setor privado, que precisa de investir mais dois biliões de dólares por ano.
"Estimamos que o setor privado precisa de cobrir a maioria das necessidades de investimento em mitigação climática nos mercados emergentes e economias em desenvolvimento (EMDE), num montante que pode chegar aos 90% do total, porque o crescimento do investimento público deverá ser limitado", escrevem os autores do relatório sobre a Estabilidade Financeira Global, cujo terceiro capítulo foi divulgado esta segunda-feira.
"A Agência Internacional da Energia projeta que estes investimentos precisam de aumentar para dois biliões de dólares [1,8 biliões de euros] por ano até 2030 nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento, o que correspondente a 12% do investimento total nestes países, significativamente acima dos atuais 3%", acrescenta o FMI, salientando que, para já, os problemas são maiores que as soluções.
"Os EMDE enfrentam desafios significativos na atração de capital privado", alertam, apontando que "muitos têm 'ratings' abaixo da recomendação de investimento, o que limita a base de potenciais investidores e resulta em elevados custos de financiamento", especificam.
Além disso, muitos destes países, onde se incluem os lusófonos africanos, enfrentam também um desfasamento entre as políticas ambientais dos maiores bancos e seguradoras e os objetivos de emissões líquidas zero, o que torna mais difícil a obtenção de financiamento.
O financiamento de investimentos que protejam os países das alterações climáticas é um dos principais temas que estarão em debate nos Encontros Anuais do FMI e do Banco Mundial, que decorrem na próxima semana em Marraquexe, Marrocos.
Para ajudar os países a fazerem a transição para a economia verde, e para conseguirem encontrar financiamento para implementar a transição, o Fundo apresenta uma série de recomendações sobre as políticas, alertando, desde logo, que é preciso uma visão integrada e a abrangente e que nenhum país consegue fazer isto sozinho.
"Para criar um ambiente atrativo para os investimentos de capital privado nos EMDE é preciso um amplo conjunto de políticas", salientam, a começar pelo crescimento do mercado de carbono, apresentado como "altamente eficaz na canalização dos capitais privados para investimentos em carbono baixo", mas com a dificuldade de os decisores políticos terem de "complementar esta aposta com políticas adicionais para garantir os investimentos privados".
Para além da aposta neste mercado, o FMI segue as tradicionais recomendações de equilíbrio orçamental, prudência macroeconómica, implementação de reformas políticas, aprofundamento dos mercados financeiros e estruturas inovadoras de financiamento, para além do fortalecimento da arquitetura de informação sobre dados climáticos para 'convencer' os investidores.
No documento, os autores deixam também um incentivo ao "alargamento da utilização de garantias por parte dos bancos multilaterais de desenvolvimento e de doadores, que podem ser um instrumento eficaz na redução do risco real e percecionado nos EMDE".
Apoiam também o recurso a financiamento misto ('blended finance', no original em inglês, significando a junção de vários tipos de financiamento, como emissão de títulos de dívida e empréstimos) para melhorar o perfil de risco e recompensa das oportunidades de investimento.