Investigadores portugueses versáteis perante falta de financiamento europeu no pós-Brexit
A falta de acesso durante três anos ao Programa Horizonte Europa após o 'Brexit' levou investigadores portugueses no Reino Unido a encontrarem soluções alternativas de financiamento, desde posições fora do país a projetos mais criativos.
Após terminar o doutoramento, Mafalda Dâmaso foi professora de Cultura, Media e Educação das Indústrias Criativas na universidade King's College de Londres durante dois anos.
Mas o desejo de se dedicar à investigação, e a escassez de financiamento britânico na área cultural, levou-a a candidatar-se em 2021 a uma posição na Universidade Erasmus de Roterdão.
"Pensei que poderia ter mais acesso a financiamento, em especial europeu", o qual obteve em 2022, apesar de continuar a residir em Londres, contou à Agência Lusa hoje, à margem do Luso2023, encontro anual dos investigadores e estudantes portugueses no Reino Unido.
Marisa Miraldo, professora de Economia da Saúde na Imperial College Business School, conta que viu muitos colegas regressarem aos respetivos países devido à dificuldade em obterem financiamento europeu.
No seu caso, teve de ceder a liderança de um consórcio internacional num projeto de investigação a um parceiro europeu para poder beneficiar de fundos do Programa Horizonte Europa.
Inês Sequeira, líder de grupo e professora no Instituto de Medicina Dentária, Queen Mary University of London, ponderou sair do país, mas optou por ficar e procurar apoio junto de organizações não lucrativas britânicas.
No entanto, já está a preparar uma candidatura com colaboradores de Itália, Áustria, Alemanha e Suécia para uma bolsa European Research Council.
O acordo para a adesão como membro associado do Programa-Quadro de Investigação e Inovação Horizonte Europa foi alcançado no mês passado, após três anos de incerteza criada pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE).
A partir de 2024, os investigadores e organizações britânicas poderão concorrer em pé de igualdade com os dos Estados-Membros da UE a este programa, que tem um orçamento de 95,5 mil milhões de euros para o período entre 2021 e 2027.
No entanto, entre 2021 e 2023, investigadores de instituições britânicas não puderam apresentar candidaturas diretas a financiamento, incluindo portugueses.
"Houve um impacto direto e indireto. Aguardamos ansiosamente que seja implementado para experienciarmos as portas que se possam abrir", confiou Mariana Pinto da Costa, professora no Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência da universidade King's College London.
Também médica psiquiatra no sistema de saúde público britânico (NHS), Mariana Pinto da Costa revelou que a situação "levou a alguma criatividade para encontrar parceiros e financiadores", e atualmente está envolvida em projetos de investigação com colegas da Nigéria e do Peru.
"Não fiquei parada. Mas espero que a adesão do Reino Unido ao Programa Horizonte possibilite mais colaborações, particularmente com Portugal", revelou.