Mulheres são quem mais procura consulta de prevenção do suicídio na Madeira
Em dois anos, foram realizadas 132 consultas de suicidiologia no SESARAM, onde actualmente são acompanhados 73 doentes
São sobretudo doentes do sexo feminino que têm procurado a consulta de prevenção do suicídio, criada em 2021 pelo Serviço Regional de Saúde (SESARAM).
Os dados divulgados hoje, à margem da 4.ª Jornada de Prevenção do Suicídio, dão conta de 132 consultas realizadas entre Junho de 2021 e Junho de 2023. Neste momento são acompanhados 73 doentes nas consultas de psicologia, no âmbito da prevenção desta problemática.
Além das consultas de psicologia, são igualmente realizadas consultas de psiquiatria, de enfermagem e atendimentos de Serviço Social, serviços que são assegurados por uma equipa composta por uma psiquiatra, uma psicologia, uma enfermeira especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica e um assistente social.
Na ocasião, Filipa Gomes apontou que a maioria dos doentes são mulheres, na faixa etária entre os 41 e os 50 anos de idade, em parte por terem “mais facilidade em verbalizar as suas emoções”, embora sejam os homens a tomar a dianteira nos números do suicídio registado na Região, em 2021, últimos dados oficiais divulgados.
Conforme nota a psicóloga, tem havido uma procura crescente pela ajuda disponibilizada por esta consulta, no seguimento de todo o trabalho que vem sendo realizado desde 2017 pelo grupo de trabalho de prevenção do suicídio, mesmo antes da criação formal da consulta.
Além disso, acrescenta que “já houve um descortinar de muitos tabus e de muitas crenças”, aspecto que tem facilitado a intervenção dos profissionais de saúde e tem permitido a operacionalização de todas as estratégias postas no terreno para atalhar esta problemática.
O acesso à consulta pode ser feito por iniciativa própria dos doentes, dirigindo-se ao serviço de Psiquiatria do SESARAM, que funciona no Hospital dos Marmeleiros. Outra porta de entrada são os Cuidados de Saúde Primários.
Na leitura de Pedro Ramos, as “situações auto-lesivas” resultam, quase sempre, “de um desequilíbrio social, de um desequilíbrio sanitário”, cabendo a toda a sociedade “evitar que essa situação aconteça, através de operacionalizar melhor os determinantes sociais e de saúde e bem-estar”.
O secretário regional de Saúde e Protecção Civil, que marcou presença na sessão de abertura desta 4.ª Jornada de Prevenção do Suicídio, disse que os números que colocam a Região em quarto lugar, a nível nacional, “continuam a revelar a necessidade da nossa intervenção”.
O governante apontou, ainda, que este aumento do número de suicídios registado em 2021 poderá ter relação com a “situação de excepção” vivida com a pandemia da covid-19. “O isolamento, as quarentenas, as consequências desta pandemia que afectaram, não só em termos físicos, toda a população mundial, mas também em termos de saúde mental, é uma preocupação que nós temos agora para recuperar, abordar, sinalizar, começar a tratar todas estas situações”.
Dando o exemplo das situações referenciadas pela Casa de Saúde de São João de Deus, no sítio do Trapiche, em Santo António, Pedro Ramos constatou o aumento das tentativas de suicídios entre os homens, que este ano já ultrapassaram os números do ano passado.
Entre Janeiro e os primeiros dias de Outubro deste ano já foram registados 44 episódios, enquanto em 2022 foram 42 as situações sinalizadas no ano inteiro; em 2021, registaram-se 35 episódios.