China e Estados Unidos dão sinais de reínício do diálogo no âmbito militar
A China e os Estados Unidos parecem estar a reiniciar o diálogo entre as suas forças armadas, apesar das disputas existentes sobre as reivindicações de Pequim relativamente a Taiwan e ao Mar do Sul da China.
Washington confirmou hoje que pretende enviar Cynthia Carras, diretora principal no Departamento de Defesa norte-americano para a China, Taiwan e Mongólia, em representação dos Estados Unidos no Fórum Xiangshan em Pequim este mês.
O encontro internacional organizado pelo Ministério da Defesa chinês tem como objetivo discutir a cooperação em matéria de segurança e elevar o estatuto da China como potência mundial e rival dos Estados Unidos e dos seus aliados asiáticos, incluindo o Japão e a Coreia do Sul.
A China congelou as conversações no âmbito militar depois de, em agosto último, a então presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, ter visitado a ilha autónoma de Taiwan, que a China reivindica como seu território.
Num dos incidentes mais notáveis, os responsáveis chineses da Defesa recusaram-se a atender um telefonema do secretário norte-americano da Defesa, Lloyd Austin, em fevereiro, na sequência do abate de um suposto balão espião chinês, que tinha sobrevoado a América do Norte, desencadeando uma grave crise diplomática entre as partes.
O Pentágono afirmou através de um comunicado que "acolhe com agrado a oportunidade de dialogar com representantes [do Exército Popular de Libertação] no Fórum de Xiangshan e de garantir linhas de comunicação abertas e fiáveis, assegurar canais de comunicação em caso de crise, reduzir os riscos estratégicos e operacionais e evitar perceções erróneas".
O porta-voz do Ministério da Defesa chinês, coronel Wu Qian, disse hoje aos jornalistas que "a China atribui grande importância ao desenvolvimento das relações militares entre a China e os Estados Unidos".
O Fórum anual de Xiangshan está agendado para 29 a 31 de outubro.
"No nosso entender, as patentes do pessoal que participa nos intercâmbios não são o mais importante, o que é mais importante é o conteúdo dos intercâmbios", disse Wu.
Estes comentários foram feitos no momento em que o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, partiu para Washington para se encontrar com o secretário de Estado Antony Blinken e o conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan.
O encontro segue-se a uma série de visitas de alto nível dos Estados Unidos à China nos últimos meses, mas o ponto alto deste aparente descongelamento das relações foi marcado pelo encontro entre Blinken e o Presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim em junho.
A China tem justificado a sua recusa em reiniciar as conversações de âmbito militar como resposta às sanções impostas por Washington, incluindo a recusa em permitir que o antigo ministro da Defesa, Li Shangfu, visite os EUA.
Esta terça-feira, porém, a China anunciou o afastamento de Li do cargo de ministro da Defesa, sem dar qualquer explicação ou nomear um substituto.
Instado pela comunicação social a explicar o afastamento de Li, Wu disse: "Sugiro que prestem atenção à divulgação de informações oficiais".
O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Qin Gang, também foi demitido este ano, em circunstâncias que o Governo ainda não explicou.
Em contramão a este aparente reatar do diálogo entre as duas potências, a China divulgou hoje um vídeo de um incidente relacionado com a aproximação entre navios da marinha chinesa e o USS Ralph Johnson, em que Pequim alegou que o contratorpedeiro norte-americano assediou o contratorpedeiro Guilin de última geração, tipo 052, enquanto este efetuava um treino de rotina no Mar do Sul da China, em 19 de agosto.
Segundo a China, o USS Ralph Johnson fez uma curva acentuada e acelerou, cruzando a proa do navio chinês perto das disputadas Ilhas Paracel, que a China chama Xisha.
"O que os EUA querem é ameaçar a segurança nacional da China com provocações irrestritas e incómodos contra a China", disse Wu, acrescentando que "os militares chineses estão sempre em alerta máximo e tomarão todas as medidas necessárias para salvaguardar firmemente a soberania, a segurança e os direitos marítimos da nação".