Na página ‘Ocorrências na Madeira’ no Facebook foi feita esta manhã uma publicação sobre o aparecimento de um ou dois morcegos na freguesia do Faial. A autora do texto partilha imagens e confessa o seu espanto pelo achado, admitindo que “nem sabia que havia disto na ilha”. Mas, nos comentários à publicação, várias outras pessoas referem que “sempre houve morcegos na ilha da Madeira”. Há até um cidadão que garante que o exemplar apresentado nas fotografias até “só existe na ilha da Madeira”, sendo o mesmo da espécie ‘Pipistrellus maderensis’. Vários outros sublinham que os morcegos são inofensivos para os humanos e apelam à restituição do espécimen à Natureza. Será que estamos perante um fenómeno inédito ou o aparecimento de exemplares deste pequeno mamífero voador é mais comum na Madeira do que se possa julgar?

Apesar da surpresa assumida por alguns cidadãos, há morcegos na Madeira, embora efectivamente não seja muito comum serem vistos em zonas habitacionais, como foi agora o caso. Mas, mesmo na Natureza, é difícil de os observar, por serem animais nocturnos. O DIÁRIO procurou contactar a autora da publicação no Facebook, mas esta não respondeu ao nosso pedido de mais informações.

Contactado pelo DIÁRIO, o Instituto das Florestas e da Conservação da Natureza (IFCN) informou que, “até ao momento, essa situação não foi reportada” àquele organismo público, que apenas tomou conhecimento do achado pelas redes sociais. A mesma entidade explicou que “apesar de privilegiarem as áreas naturais, os morcegos também utilizam zonas residenciais para efeitos de abrigo, reprodução e alimentação”.

No nosso arquipélago há pelo menos três espécies de morcegos: o Morcego-da-Madeira (Pipistrellus maderensis), o morcego arborícola pequeno (‘Nyctalus leisleri verrucosus’) e o morcego-orelhudo cinzento (Plecotus austriacus). Têm em comum o facto de serem insectívoros, ou seja, alimentam-se de pequenos insectos.

As três espécies de morcegos existentes no nosso arquipélago.

No caso do morcego-da-Madeira, aquele que aparentemente foi encontrado no Faial, é a única espécie de mamífero endémico existente na Região. Este morcego é muito pequeno, pesa apenas três gramas e mede em média seis centímetros de comprimento. Quando está em voo a envergadura das asas pode chegar a 22 centímetros. Embora possamos encontrá-los um pouco por toda a ilha, é na Floresta Laurissilva que este animal encontra o seu habitat preferencial e mais alimento.

O que devem as pessoas fazer quando encontram morcegos, como parece ter sido agora o caso? O IFNC recomenda que, tratando-se de animais selvagens, as pessoas devem evitar manuseá-los. Devem antes contactar o IFCN, através da linha SOS Vida Selvagem (telefone 961 957 545 ou email [email protected] ), que tomará as devidas diligências.

Questionámos ainda sobre se as pessoas devem ter medo dos morcegos. A resposta do IFNC é negativa: “Apesar de ainda existirem alguns preconceitos em relação aos mesmos e destes sofrerem ainda de má reputação pública, a população não tem razões para os temer”, pois não só não atacam as pessoas como também “desempenham um papel muito importante no equilíbrio da natureza, pois tendo uma alimentação à base de insectos, conseguem controlar pragas com impacto negativo na agricultura e mesmo na saúde pública, como é o caso do denominado ‘mosquito da dengue’”. Um só morcego alimenta-se, em média, de mais de três mil insectos numa só noite, o que corresponde a um terço do seu peso, o que atesta da sua importância no ecossistema.

Por isso mesmo, o instituto tem vindo a desenvolver várias iniciativas - comemorações anuais da Noite Internacional dos Morcegos, acções de educação ambiental nas escolas e acções de formação a grupos temáticos (agricultores, guias de natureza, agentes de turismo) - que têm contribuído para o aumento do conhecimento da população sobre estes animais.