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Telavive admite reavaliar relações com ONU após declarações de Guterres

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Foto AFP

Israel vai reavaliar as relações com a ONU, após o secretário-geral da organização, António Guterres, ter dito que os ataques do grupo islamita palestiniano Hamas "não aconteceram do nada", disse hoje à agência Lusa o embaixador israelita, Gilad Erdan.

"Definitivamente teremos de fazer uma avaliação sobre as nossas relações com a ONU. Estamos a reclamar há muito tempo", disse à Lusa o embaixador israelita junto da ONU, Gilad Erdan, em Nova Iorque, ao ser questionado sobre o futuro das relações entre Israel e as Nações Unidas após ter pedido que Guterres renuncie ao cargo.

"Depois daquilo que o líder desta organização (Guterres) acabou de dizer esta manhã, apoiando o terrorismo, não há outra forma de explicar. Obviamente, o nosso Governo terá de reavaliar as relações com a ONU e os seus funcionários que estão estacionados na nossa região", acrescentou o representante diplomático.

Erdan acusou os representantes da ONU no terreno de "distorcerem a realidade", de não relatarem "o que realmente está a acontecer" e de "tirarem as coisas do contexto".

"Todos os números que saem de Gaza e que todos sabemos estão a ser controlados pelos terroristas do Hamas, a ONU abraça-os como se estas fossem as palavras de Deus", criticou o diplomata israelita, acrescentando que "este tipo de distorção e de falência moral é inaceitável".

Ainda em resposta à questão da Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Eli Cohen, que também se encontra em Nova Iorque, afirmou que Guterres "não representa os membros mais importantes da ONU".

"Certamente não representa os Estados Unidos, a Alemanha, a França ou o Reino Unido, que apoiaram Israel", argumentou o ministro, ao lado de vários familiares dos reféns capturados pelo Hamas.

Pouco antes, Erdan tinha pedido a Guterres para que se demitisse "imediatamente" de funções, acusando o líder da ONU de ser "parcial" em relação ao conflito em curso entre Israel e o Hamas, hostilidades que estão a desestabilizar fortemente a região do Médio Oriente.

O pedido de demissão de Guterres foi posteriormente apoiado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, que cancelou uma reunião agendada para hoje com o secretário-geral da ONU.

"Você não tem vergonha?", disse Cohen, com palavras dirigidas a Guterres.

A indignação do Governo israelita foi manifestada na abertura de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU dedicada ao conflito em curso no Médio Oriente, quando Guterres condenou inequivocamente os "atos de terror" e "sem precedentes" de 07 de outubro perpetrados pelo Hamas em Israel, mas admitiu ser "importante reconhecer" que os ataques do grupo islamita "não aconteceram do nada", frisando que o povo palestiniano "foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante".

"Viram as suas terras serem continuamente devoradas por colonatos e assoladas pela violência; a sua economia foi sufocada; as suas pessoas foram deslocadas e as suas casas demolidas. As suas esperanças de uma solução política para a sua situação têm vindo a desaparecer", prosseguiu Guterres, na mesma intervenção.

O líder da ONU sublinhou, porém, que "as queixas do povo palestiniano não podem justificar os terríveis ataques do Hamas", frisando ainda que "esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestiniano".

De acordo com o embaixador israelita, Guterres "não se importa com o sofrimento dos civis israelitas" e "tolera o terrorismo".

"Você, senhor secretário-geral, perdeu toda a moralidade e imparcialidade, porque quando diz aquelas palavras terríveis de que os ataques hediondos do Hamas não aconteceram sem motivo, você está a tolerar o terrorismo", argumentou o diplomata, exigindo um pedido de "desculpas imediato" o líder da ONU.