Nós, os velhos, hoje ou um dia destes
A partir do momento em que a gente nasce começa a viagem veloz com destino ao fim,e vivemos com tanta pressa!Cada dia é um dia a menos. Nossas mãos partirão vazias pois não levaremos malas nem bens ,somente o que tivermos no coração. Com a esperança de maior longevidade cada vez mais seremos mais velhos,num país e ou numa região que trata os seus velhos como meros objectos descartáveis.
Os casos que se sucedem nos lares de idosos,e não só, trazidos a público pela comunicação social e os que permanecem na sombra, são a face visível de uma cultura degradada na forma como se trata os mais velhos. Há casos que ultrapassam a própria ficção, que nos deviam incomodar, indignar,revoltar e envergonhar, mas parece que o sofrimento alheio só interessa para a bisbilhotice.
Aceito a passagem do tempo com alguma serenidade e conservo o meu sentido de humor apesar dos vincos em torno dos olhos e o “código de barras “acima dos lábios. Mas tenho medo,muito medo, que perdendo algumas das minhas capacidades físicas ou cognitivas possa vir a sofrer do mesmo tipo de tratamento condenável a que tem sido sujeitos alguns idosos,segundo me foi dado saber.
Não é possível admitir que uma pessoa em idade avançada,privada de algumas das suas capacidades, com doenças associadas ao envelhecimento seja recebida por quem quer que seja com impropérios como “o que vem para aqui fazer?,isto não é asilo,isso é demência senil ,o que está à espera com essa idade?”, entre outros não menos desagradáveis.
São estes e outros velhos como estes,excluídos do mundo dos afectos, maltratados,porque já não produzem e são apenas fonte de despesa desnecessária. Desconhece-se ou esquece-se que o valor de uma pessoa é sempre superior à sua idade. Engana-se quem julga que certos casos só se davam há muito, muito tempo. Basta abrir os olhos para ver que sobram situações que comprovam o contrário. Às vrzes corre-se o risco de deixar pistas e vir a sofrer as consequências ,pois o mundo é feito de mudança e pode acontecer que um dia a casa caia.
A indiferença de muitos perante alguns comportamentos individuais pouco abonatórios significa que as pessoas não se chocam ,se adaptam ,aceitam tacitamente, desvalorizam ou assobiam para o lado quando o assunto não lhes diz directamente respeito. Ou restringem-se ao falatório inconsequente,no ambiente privilegiado para o efeito,mas longe do local e tempo apropriados.
Criam -se regras que não se cumpre, impõem-se comportamentos que não se tem,espera-se respeito que não se dá e dita-se princípios que não se segue.
“Respeitar a pessoa idosa é tratar o próprio futuro com respeito “.
Madalena Castro