Novamente grandes incêndios
Os pastoreio controlado, sempre foi um maneira de evitar os incêndios em todo o lado, com exceção da Madeira
Eram expectáveis o aparecimento dos grandes incêndios na nossa Ilha da Madeira. As causas são as mesmas: alterações climáticas, a existência de queimadas na época mais quente do ano, os pirómanos e fundamentalmente toda uma passividade e incompetência de quem governa no que se refere à gestão da floresta, principalmente nestes últimos 47 anos. Muito tempo a negar a boa ajuda que seria a vinda de um helicóptero para a Madeira.
Foi preciso o Partido Socialista conseguir que viessem dois meios aéreos em fase experimental: Um avião e um helicóptero, que em 2012 eu próprio tinha sugerido ao Secretários da Agricultura e Ambiente a sua vinda para cá, através de um estudo que lhe tinha apresentado após os grandes incêndios desse ano. Foi recusada essa sugestão porque o Presidente do Governo de então, Dr. Alberto João Jardim não queria, baseado numa conversa informal que teria tido em 1976 com o então Oficial da Força Aérea Lino Miguel, Ministro da República para a Madeira O tempo foi passando e esqueceram-se que a tecnologia não estava a dormir, avançava sempre, até que houve mortos no grande incêndio de 2016 e o Governo, embora não convencido, resolveu aceitar a vinda dos referidos meios aéreos para ensaios por sugestão de Carlos Pereira, Deputado Socialista à Assembleia da República, ao que o Governo de António Costa, disponibilizou um avião e um helicóptero para fazerem ensaios na Madeira. O sucesso desses ensaios fez com que de imediato se tratasse da vinda para a Região de um helicóptero e respetivos pilotos, mas esqueceram-se que esse meio seria apenas uma ajuda, especialmente para atuar nos primeiros momentos dos incêndios e em locais inacessíveis aos bombeiros. Durante estes anos o helicópteros foi ajudando a resolver, juntamente com o corpo de bombeiros, todos os incêndios que foram aparecendo.
Infelizmente esqueceram-se do resto, mas continuei escrevendo vários artigos no DN sobre o assunto, em especial exigindo que criassem as zonas corta-fogo, plantando faixas com plantas folhosas, muito mais resistente aos incêndios que os eucaliptos e as resinosas, para além de permitirem que o mato tenha progredido, nomeadamente nas serras com urzes e grandes giestais. Começaram o chamado corta-fogo do Funchal, a uma cota entre os seiscentos e os setecentos metros, que deveria ser destinada à produção de fruta de climas temperados, como a Maçã, a pera, a cerejeira, a nogueira e o castanheiro, ou seja a faixa corta-fogo deveria ter sido feita mais acima, utilizando---se de preferência plantas da Laurissilva, com exceção das urzes (porque não são resistentes ao fogo). No meu livro “A agricultura e Eu”, explico como é onde é de que deveria ser feita, que publiquei há dois anos e nele digo que a Madeira voltaria a ter grandes incêndios e agora digo que vai voltar a ter, novamente, grandes incêndios.
Os pastoreio controlado, sempre foi um maneira de evitar os incêndios em todo o lado, com exceção da Madeira porque os governantes não permitiam. Agora será preciso dar cursos de pastores, porque deixaram envelhecer e morrer os poucos pastores que já tínhamos. O Presidente do Governo, agora vem dizer que vi permitir o pastoreio controlado, mas para isso têm que pedir apoio ao Governo da República, que mande cá, à Madeira e Porto Santo, pessoal competente para dar esses cursos e formar novos pastores, com a colaboração dos poucos que ainda existem.
Se isso acontecer, poderemos ter na Região a produção de queijo de cabra e depois de queijo de ovelha, pois deve começar-se com a introdução de cabras, na Serra, para fazerem a limpeza de todo o “mato” existente e depois fazer os pastos para as ovelhas. Acho que deveriam procurar nos arquivos dos extintos Serviços Florestais, que fizeram um estudo sobre pastos de altitude, nos anos sessenta do século passado, tendo importado sementes de ervas com esse fim. Por favor, não tentem inventar coisas novas e não voltem a fazer destruição mecânica das invasoras, como aconteceu no Paul da Serra, que também serviu para espalhar as suas sementes.
Apesar de tudo isto, nunca se esqueçam que medidas isoladas de nada servem, pois ficou demonstrado que o helicóptero só por si não é suficiente, mas o seu conjunto e que a limpeza dos terrenos agrícolas tem que ser obrigatória, como também as queimadas devem desaparecer de uma vez para sempre. Quando algum agricultor pretenda fazer uma queimada, ofereçam-lhe cabras, que limpam bem o terreno e que as faixas corta-fogo devem ser feitas no local certo com as plantas certas. Além disto será preciso criar medidas de apoio ao agricultor para que ele não deixe de cultivar o seus terrenos, diminuindo, assim a área de terrenos abandonados.
Fala-se, também na vinda de mais um helicóptero com aptidão para trabalhar durante a noite, o que eu duvido, mas oxalá seja verdade, pois os existentes no continente só trabalham durante o dia e não existem as montanhas e os vales que existem na Madeira. De qualquer modo, se “um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais..,.