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A importância da preparação para os cargos

As sociedades modernas parecem esquecer-se dos ensinamentos do passado. Para muitos, o que interessa é ocupar “cargos” ou “posições”, sendo indiferente a preparação que detêm para o exercício do cargo que ocupam. O que vai safando é que aqui e ali existe algum subordinado que vai preparando o trabalho, ou aconselhando sobre o que deve ser feito. E assim se vai mitigando as falhas. O problema é quando não existe esta base de suporte e se ocupam lugares de governação, ou de representação política.

Plutarco, historiador, filósofo e prosador grego que viveu entre o ano 46 e 120 DC, apresentou alguns ensinamentos sobre liderança e governação entre os quais alertava para a necessidade de os jovens prepararem-se para a dialética e argumentação política na “tribuna” e de que deveriam ter um “mestre” que os aconselhasse e encaminhasse no seu percurso político. É no fundo o que sabedoria popular nos diz quando afirma “ninguém nasce sabendo”.

A preparação para os cargos não significa que sejam somente os anciãos a exercer cargos políticos, mas inevitavelmente exige-se um determinado grau de maturidade que naturalmente depende da experiência pessoal de cada um e do seu percurso de vida. Esta maturidade deveria fazer com que os representantes do povo nos conduzissem e/ou governassem de forma que vivêssemos cada vez melhor. Veja-se os casos de grandes líderes internacionais que foram preparados para os cargos que ocupam como é o caso de Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, filho do ex-primeiro-ministro canadense Pierre Elliott Trudeau. Desde tenra idade foi aprendendo com o pai a arte de governar e que lhe tem servido de grande utilidade na tomada de decisões sobre os destinos do Canadá. Agora compare-se com a representação política de Portugal e da Madeira e tire-se as devidas conclusões.

Plutarco já no Sec. I alertava os jovens para o perigo da “manipulação dos poderosos” no seu percurso político. Parece mentira que em pleno sec. XXI alguns deputados e líderes de partidos políticos ainda se deixem iludir pela sua posição e não tenham visão deste perigo no seu percurso. Deveriam todos se perguntar o que Plutarco muito sabiamente questionou - “Poderia um jovem, que leu corretamente um livro ou escreveu um ensaio escolar no Liceu sobre a constituição, governar uma cidade e convencer o povo ou o conselho?”, in “Como ser um líder?”

Alguns deputados da nossa assembleia deveriam ter consciência destes ensinamentos. E não só os mais jovens. Creio que alguns deveriam crescer e entender que equidade, prudência, moderação, simplicidade, doçura e magnificência (defendidas como virtudes dos governantes em Plutarco) são características fundamentais de um governante e, muitas vezes, só são adquiridas ao longo do tempo. E os deputados deveriam cultivar em si esta postura no exercício do seu trabalho como deputados. E os governantes deveriam procurar estas qualidades como forma de melhorar a sua governação.

É preciso não ter pressa. Muitos jovens políticos não deveriam se deixar levar por ambições políticas precipitadas. Porque neste jogo da política é preciso saber discernir entre os “amigos” e os “aduladores”. Infelizmente, existem muitos políticos já com carreira estabelecida que também ainda não aprenderam isto e parece que ainda confundem estes dois tipos de pessoas.

Para a boa governação, é importante a escolha de bons amigos. Apesar de muitos afirmarem que “não existem amigos na política” a verdade é que ninguém governa só e precisa de um grupo de amigos que alertem com verdade o que é preciso ser feito, sem a ameaça de retaliações.

Já Plutarco afirmava “Quando é necessário que se realize algo grande, útil, e que envolva grande disputa e esforço, busque os amigos mais poderosos e, dos mais poderosos, os mais responsáveis. Escolha os mais capazes. E os mais flexíveis entre os mais eficazes.”

Num mundo cada vez mais violento, devemos compreender que precisamos da experiência e prudência dos mais velhos para apaziguar rivalidades, manter a ordem, evitar tensões e intervir como moderadores nos conflitos. Como pode haver paz social se não houver autocontrole?

E termino com outra frase de Plutarco - “É preciso afastar não os anciãos, mas sim os incapazes, e não chamar os jovens, mais sim os capazes”.