Aberta fronteira da Palestina com Egipto com corredor humanitário
Camiões que transportam ajuda humanitária começaram hoje a atravessar o terminal de Rafah (Egito) a caminho do enclave palestiniano de Gaza, segundo um funcionário do Crescente Vermelho egípcio.
A televisão estatal egípcia mostrou vários camiões a passarem pelos enormes portões do posto fronteiriço, no 15.º dia da guerra entre Israel e o movimento islamita Hamas, no poder em Gaza, depois de toneladas de ajuda se amontoarem há dias à espera de serem encaminhadas para os 2,4 milhões de habitantes de Gaza, metade dos quais crianças, que estão sem água, eletricidade ou combustível.
O posto fronteiriço entre o Egito e a Faixa de Gaza foi hoje reaberto para permitir o escoamento da ajuda e a saída de palestinianos do território.
Mais de 200 camiões carregados, com cerca de 3.000 toneladas de ajuda, estão perto do posto há vários dias, à espera de autorização para entrar.
A embaixada dos Estados Unidos no Egito alertou para o "ambiente potencialmente caótico" que a abertura da fronteira pode criar, com uma corrida para o Egito por parte de cidadãos com dupla nacionalidade que fogem de Gaza e com as entregas dos primeiros socorros.
À medida que o conflito entra na sua terceira semana, a ajuda é desesperadamente necessária para os habitantes de Gaza, território que está a ser bombardeado por Israel, que prometeu "aniquilar" o Hamas.
Hoje, o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas referiu que o número de pessoas que abandonaram as suas casas em Gaza devido aos ataques israelitas ascende agora a 1,4 milhões, quase dois terços dos 2,2 milhões de pessoas que vivem no território.
No seu relatório diário sobre a situação em Israel e nos territórios palestinianos desde o início do conflito, em 7 de outubro, o gabinete de coordenação refere que cerca de 544 000 destas pessoas deslocadas estão alojadas em abrigos geridos pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA).
Mais de 100.000 estão em igrejas, hospitais e outros edifícios públicos da cidade de Gaza, de acordo com o relatório, que coloca o número de mortos na Faixa de Gaza desde o início das hostilidades em 4.137, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza.
A ONU alerta para a sobrelotação de muitos dos abrigos de refugiados e sublinha que, em alguns deles, só pode ser fornecido um litro de água por pessoa para beber, fazer a higiene e outros usos (o mínimo, segundo as normas internacionais, deveria ser de 15 litros).
"A sobrelotação e a falta de bens de primeira necessidade provocaram tensões entre os deslocados", refere o relatório diário da ONU, que reconhece não dispor de informações sobre a situação de muitos refugiados no norte de Gaza, a zona mais atingida pelos ataques israelitas.
Para além dos 4.137 mortos em Gaza (1.661 crianças e 908 mulheres, segundo as autoridades palestinianas), os ataques causaram 13.162 feridos, refere o relatório, que contabiliza ainda 82 mortos (25 dos quais crianças) e 1.425 feridos na Cisjordânia.
O número de mortos em Israel continua a ser de 1.400, com 4.629 feridos, quase todos nos ataques terroristas de 7 de outubro, diz o relatório diário da ONU, que também refere um israelita morto e nove feridos na Cisjordânia.
A ONU sublinha que pelo menos mil pessoas estão desaparecidas na Faixa de Gaza, possivelmente nos escombros dos edifícios destruídos nos ataques.
Algumas delas podem ainda estar vivas, diz o relatório, referindo que as equipas de salvamento da Defesa Civil palestiniana estão a tentar procurar as pessoas presas "apesar dos contínuos ataques aéreos, da escassez de combustível para os seus veículos e equipamento e das ligações de telemóveis limitadas ou inexistentes".
O relatório recorda, citando dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), que Gaza sofreu 62 ataques a instalações de saúde, incluindo 19 hospitais e 23 ambulâncias, tendo sido mortos pelo menos 16 profissionais de saúde, enquanto 193 escolas e outros edifícios educativos foram afetados.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU sublinha que três das cinco padarias que gere para produzir um dos principais alimentos básicos para a população já cessaram as suas atividades devido à falta de ingredientes e de combustível.