Jovens licenciados “olham para o salário, riem-se e vão-se embora”
A frase que é título desta coluna de opinião foi proferida pelo Presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) em entrevista à Renascença. Nessa entrevista o Presidente do CRUPP fala da dificuldade que as Universidades estão a ter para contratarem Professores para os seus quadros. Afirma que os concursos de Professores Universitários estão a ficar desertos e quando os licenciados com melhores notas, que são considerados potencialmente futuros Professores Universitários, são abordados sobre a possibilidade de seguirem uma carreira académica em Portugal estes “olham para o salário, riem-se e vão-se embora”. Preferem ir trabalhar “para França, para a Alemanha, para a Suíça e não ficam cá”.
Na realidade as condições de trabalho oferecidas aos Professores Universitários (ou, mais geral, do Ensino Superior) em Portugal são muito menos atrativas do que as condições oferecidas por instituições similares ou no setor privado no estrangeiro. As condições não são só financeiras, mas em termos de cargas horárias de lecionação, de apoios à investigação, de apoio à participação em conferências e reuniões internacionais, da cultura organizacional e da capacidade das chefias de topo e intermédias resolverem problemas de forma eficiente e eficaz.
Algumas instituições nacionais têm conseguido ser geridas por colegas com visão do futuro, que têm conseguido, apesar das limitações legais que não deixam de cumprir, encontrar maneiras de compensar os Professores de modo que, o que parece à partida serem condições desfavoráveis, poderem ser compensadas com mais valias para a atração de pessoas do topo.
Os dirigentes das instituições portuguesas que aparecem bem colocadas nos rankings internacionais não andam, de certeza, preocupados a forçarem os Professores a trabalharem o número máximo de horas de lecionação permitido por lei (ou mais segundo alguns Sindicatos), antes pelo contrário, esforçam-se para que os docentes tenham o máximo tempo disponível para a investigação pura e para a investigação que serve de base á atividade letiva, que são o mais importante para o sucesso de uma Escola. Este sucesso atrai os apoios dos privados e aumenta a procura por parte dos melhores alunos e alunas.
Felizmente Portugal tem vários casos de instituições de sucesso que conseguem atrair dos melhores investigadores nas suas áreas… claro que o clima, a segurança, o custo de vida ajudam, mas o que leva à decisão final são as condições de trabalho e o reconhecimento do que os investigadores gostam de fazer.
Acho que é altura de o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior promover a partilha destes casos de sucesso e assim, talvez, no futuro os jovens licenciados ao olharem para o salário, em vez de irem embora, perguntem: E que condições além das salariais nos têm para oferecer?