Será verdade que a Gesba não cumpriu a promessa de recolher e pagar "toda a banana"?
No passado dia 13 de Setembro, o administrador da Gesba anunciou que as equipas de corte iam “trazer toda a banana para processamento” nas respectivas instalações, mesmo a fruta estivesse “verde ou amarela, independentemente do estado de maturação” e que os produtores receberiam o seu pagamento, pois a empresa iria “naturalmente assumir os custos”. Será que a empresa tutelada pelo Governo Regional cumpriu a sua promessa?
A questão é relevante, pois trata-se de um ano com uma produção acima do normal. Só em Agosto a Gesba recebeu cerca de 3 milhões de quilos de banana. Nunca num só mês tinha sido recolhida tanta banana e estimava-se que em Setembro seria atingido o mesmo valor. Dada a produção excepcional, as 15 equipas de corte de banana da empresa, constituída cada uma por sete elementos, não tiveram mãos a medir na recolha dos cachos.
A falta de mão-de-obra originou atrasos na recolha dos cachos. Perante a preocupação dos produtores que viam a fruta amadurecer e a ficar na terra, a 13 de Setembro passado, no telejornal da RTP-Madeira, o administrador da Gesba Artur Lima veio fazer uma declaração tranquilizadora: “Foi decidido que todas as equipas de corte vão trazer toda a banana para processamento na Gesba, mesmo a que esteja verde ou amarela, independentemente do estado de maturação. E mais. Naturalmente que essa banana irá ser processada. Se a banana é extra, naturalmente será extra. Se for de primeira, naturalmente será de primeira”. Com legislativas marcadas para 24 de Setembro, não faltou quem visse nesta promessa objectivos eleitoralistas.
De facto, há banana amarela que está a ser recebida pela Gesba. Fonte da empresa pública sublinhou que foram dadas "instruções de trabalho às equipas afectas à produção, no sentido de receber, além da banana verde, toda a banana amarela, destinada à comercialização". Tal "medida, de carácter excepcional, tem como objectivo o apoio aos produtores de banana, uma vez que se verificou um pico elevado de produção nas últimas semanas, consequência das temperaturas altas registadas neste período". A medida, que entrou em vigor no dia 13 de Setembro de 2023, representa até ao dia de hoje, a recepção de 3.206 quilos de banana madura.
Entretanto, há uma reorganização em curso no sector para garantir soluções para picos de produção. No Funchal, foram ontem encerradas as instalações de Santa Rita, passando toda a operação a funcionar no novo Centro de Processamento em São Martinho, alteração que vem garantir o aumento de capacidade de tratamento.
No entanto, o DIÁRIO apurou que a Gesba não está a conseguir processar “toda a banana” produzida e há muitos agricultores madeirenses aflitos, a ver a banana a apodrecer no terreno (ver fotos). Um produtor com uma plantação no Pico da Cruz (Câmara de Lobos) deixou um depoimento que ilustra bem a situação: “Isto é uma tristeza. Dá-me para chorar. Tenho uns 40 cachos amarelos e disseram-me na Gesba que não têm pessoal. Eles vão apanhar mas já tenho mais de 30 cachos no chão e eles não levam. Tenho mais de mil quilos de banana de prejuízo. Eu pedi, por amor de Deus, no armazém, na semana passada e esta semana. Mas eles não vieram. Para o ano, não boto guano e só vou apanhar o que der. É uma tristeza”.
O problema já chegou ao debate político. Anteontem, o grupo parlamentar do JPP promoveu uma iniciativa junto ao armazém da Gesba na qual o deputado Élvio Sousa denunciou que aquela empresa pública “está a informar que irá pagar apenas a banana que estiver em condições de ser comercializada, o que contradiz, por completo, aquilo que disseram aos órgãos de comunicação social, antes das eleições”.
Em jeito de resumo, o DIÁRIO apurou que a Gesba está realmente a recolher e a pagar alguma da banana que já não se encontrava nas melhores condições. No entanto, como provam as fotos, não está a cumprir a promessa de processar “toda a banana, mesmo a que esteja verde ou amarela, independentemente do estado de maturação”.