Biden discursa na Sala Oval para pedir dinheiro para Israel e para a Ucrânia
O presidente Joe Biden vai fazer esta noite um raro discurso na Sala Oval, preparando-se para pedir milhares de milhões de dólares adicionais em assistência militar a Israel e à Ucrânia, aprofundando o envolvimento norte-americano em dois conflitos estrangeiros.
O discurso será uma oportunidade para Biden argumentar que os Estados Unidos têm uma obrigação - e um interesse de segurança nacional - em ambos os países, sendo também uma oportunidade para fazer 'lobby' publicamente junto dos legisladores para obter o dinheiro.
O pedido de financiamento, que deverá ser formalmente revelado na sexta-feira, deverá rondar os 100 mil milhões de dólares durante o próximo ano, de acordo com fontes diretamente ligadas à proposta, que pediram o anonimato.
O valor total inclui algum dinheiro para a defesa de Taiwan e para gerir o fluxo de migrantes na fronteira sul com o México.
Joe Biden espera que a combinação de todas estas questões numa única proposta legislativa crie a coligação política necessária para a aprovação do Congresso.
O discurso do presidente norte-americano surge um dia depois da sua viagem a Israel, onde demonstrou solidariedade com o país na luta contra o Hamas e fez pressão para uma maior assistência humanitária aos palestinianos na Faixa de Gaza.
Antes do seu discurso, Biden falou com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para sublinhar que os EUA continuam empenhados em apoiar Kiev, informou a Casa Branca.
Biden enfrenta uma série de grandes desafios ao tentar assegurar o dinheiro. A Câmara continua num caos porque a maioria republicana não conseguiu selecionar um substituto para o deputado Kevin McCarthy, destituído há mais de duas semanas.
Além disso, os republicanos conservadores opõem-se ao envio de mais armas para a Ucrânia, uma vez que a sua batalha contra a invasão russa se aproxima dos dois anos.
O anterior pedido de financiamento de Biden, que incluía 24 mil milhões de dólares para ajudar nos próximos meses de luta, foi retirado da legislação orçamental no mês passado, apesar de um apelo pessoal de Zelensky.
A Casa Branca avisou que o tempo está a esgotar-se para evitar que a Ucrânia, que recentemente se esforçou por fazer progressos numa contraofensiva extenuante, perca terreno para a Rússia devido à escassez de armas.
Haverá também resistência do outro lado do espetro político, quando se tratar de assistência militar a Israel, que tem estado a bombardear a Faixa de Gaza em resposta ao ataque do movimento islamita Hamas em 7 de outubro.
Os críticos acusam Israel de matar indiscriminadamente civis e de cometer crimes de guerra ao cortar o fornecimento de bens essenciais como alimentos, água e combustível.
O apoio bipartidário a Israel já sofreu uma erosão nos últimos anos, com os democratas progressistas a tornarem-se mais francos na sua oposição à ocupação de décadas do território palestiniano, que é amplamente considerada ilegal pela comunidade internacional.
Correm também rumores de desacordo dentro da administração de Biden. Josh Paul, um funcionário do Departamento de Estado que supervisionava o gabinete de ligação com o congresso que lidava com a venda de armas estrangeiras, demitiu-se devido à política dos EUA em matéria de transferência de armas para Israel.
"Não posso trabalhar para apoiar um conjunto de decisões políticas importantes, incluindo a entrega de mais armas a um dos lados do conflito, que considero serem de vistas curtas, destrutivas, injustas e contraditórias com os valores que defendemos publicamente", escreveu numa declaração publicada na sua conta do LinkedIn.
Josh Paul terá sido o primeiro funcionário a demitir-se em oposição à decisão da administração de aumentar a assistência militar a Israel após o ataque de 7 de outubro.
Durante a sua visita a Telavive na quarta-feira, Biden disse a Israel: "não vos deixaremos nunca sozinhos". No entanto, advertiu os israelitas para não serem "consumidos" pela raiva, como disse que os Estados Unidos foram após os ataques de 11 de setembro de 2001.
A tomada de decisões em tempo de guerra, disse Biden, "requer fazer perguntas muito difíceis" e "clareza sobre os objetivos e uma avaliação honesta sobre se o caminho que se está a fazer alcançará esses objetivos".
Um discurso na Sala Oval é uma das plataformas mais prestigiadas que um presidente pode usar, uma oportunidade para tentar captar a atenção do país num momento de crise.
Joe Biden fez apenas um discurso deste tipo durante a sua presidência, depois de o Congresso ter aprovado legislação orçamental bipartidária para evitar o incumprimento da dívida pública.
O Senado planeia avançar rapidamente com a proposta de Biden, na esperança de que esta crie pressão sobre a Câmara, controlada pelos republicanos.
No entanto, existem divergências no seio do Senado sobre a forma de avançar, já que oito republicanos, liderados pelo senador do Kansas, Roger Marshall, disseram que não queriam combinar a assistência à Ucrânia e a Israel na mesma legislação.
A decisão de Biden de incluir financiamento para Taiwan na sua proposta é um sinal para o potencial de outro conflito internacional. A China quer reunificar a ilha autónoma com o continente, um objetivo que poderá ser levado a cabo pela força.
Embora as guerras na Europa e no Médio Oriente tenham sido as preocupações mais imediatas da política externa dos EUA, Biden vê a Ásia como a arena chave na luta pela influência global.