‘O mapa não é território’. É considerado por muitos o principal pressuposto da programação neurolinguística, adoptado do matemático e filósofo Alfred Korzybski, no seu trabalho Semântica Geral. Partilho-o sempre, com os meus alunos, na primeira aula de neurolinguística. Um princípio orientador da vida, em todas as frentes. Esta afirmação tem um princípio construtivista. Traduzido por miúdos, ‘o mapa não é o território’ significa que cada um de nós vive a sua realidade de acordo com a sua própria percepção do mundo. E essa, tem por base as interpretações que fazemos relativamente ao que acontece para nós.

Acontecimentos que, por sua vez, são interpretados de acordo com os nossos filtros (crenças, valores, memórias, metaprogramas, códigos culturais…) e claro, a nossa história pessoal, a nossa experiência. Portanto, os acontecimentos (a realidade), na verdade, não são os acontecimentos, são apenas a nossa interpretação dos mesmos. Se mudarmos os filtros, alteramos o significado que atribuímos aos acontecimentos. Resignificamos. Qualquer coisa que possamos estar a vivenciar e que consideramos ser um problema, é importante lembrar que o problema nunca está no evento externo, mas na representação interna que fazemos desse evento. Se alguém tem medo de andar de elevador, o problema não é o elevador, senão todos teríamos medo de andar de elevador. O problema é a representação interna que essa pessoa tem e é ela, representação interna, que pode ser mudada.

A ideia que construímos acerca de pessoas, lugares, coisas – por mais fiel que possa parecer – pode estar totalmente desfasada da realidade. Quantas vezes não nos aconteceu julgar alguém pela aparência e descobrir que estávamos enganados em relação a essa imagem que construímos? 

O que vejo fora de mim – no mundo, no outro – é um reflexo do meu mundo interior, um reflexo de mim: tudo o que encontramos naquilo que nos rodeia (e em quem nos rodeia) existe dentro de nós. 

“— Juras dizer a verdade, toda a verdade e nada além da verdade?
— Ninguém pode dizer ‘toda a verdade’. É subjectivo. Foi filtrado pelas nossas próprias experiências.”
Dr. Lightman, em Lie to Me

É por isso que o conceito de certo e errado é absolutamente redutor na análise do que quer que seja. Certo ou errado comparado com o quê? O que será que existe além deste certo, deste errado? O que mais é possível, além deles?

Agora, que sabemos todos que ‘o mapa não é o território’, pode ser mais fácil chegarmos a um acordo sobre como descontruir temas tabu, na nossa sociedade. Para descontruir havemos de ter a humildade de reconhecer que somos todos diferentes, que não precisamos todos de gostar do mesmo, que podemos viver em sociedade, com respeito, sem impor mapas uns aos outros. Que podemos conversar. Escutar ativamente, desde um lugar de curiosidade para assim, podermos elevar o diálogo a um patamar consciente e construtivo. Podemos e devemos comunicar assertivamente e de forma empática. Porque, ainda que disfarçada de humor, toda a violência verbal, que agride, goza, diminuiu o outro, desrespeita o mapa do próximo, não é comunicação, é violência! E é um paradoxo querer desconstruir o que acreditamos ser violência, com mais violência. Comportamento gera comportamento. Sim, há normas sociais. Sim são para cumprir. Mas com mútuo respeito, mantendo a dignidade. A nossa. A do próximo. A do todo.

Se tivermos em consideração que aquilo a que chamamos realidade é apenas um conceito e aceitarmos que “eu sou eu e tu és tu”, predispondo-nos a ver o mundo pelos olhos do outro, sem julgar, sem querer alterar a visão do outro (que é diferente porque nasce de uma pessoa com uma experiência de vida diferente) e recebendo-a até como complementar à nossa, estamos a oferecer a nós próprios uma possibilidade de expansão da consciência que tornará o nosso mapa mais amplo e mais adaptativo, evitando (até) potenciais conflitos. Em vez de projetar no outro as minhas ideias - expectativas, julgamentos, preconceitos - há uma pergunta que, para mim, é milagrosa porque abre espaço à curiosidade e possibilita que o outro se expresse a partir da sua experiência. 

“- Como é isso para si?”

E há outras questões que podem ajudar:

• Será que o que eu acabei de perceber reflecte com  exatidão a realidade? 

• Quais são as minhas crenças e valores que podem estar a interferir no meu processo de julgamento? 

• O que mais pode ter ocorrido que me passou desapercebido? 

• Quais as suposições eu posso ter inferido que me fizeram criar uma realidade que não existiu?

A prática deste pressuposto torna-nos, garantidamente, mais inteiros e melhores seres humanos.