A solução política encontrada por Miguel Albuquerque após os resultados eleitorais de 24 de Setembro, nomeadamente ao dar o dito por não dito na promessa que fizera de não governar sem maioria absoluta, não agradou ao histórico militante e dirigente do PSD, José Pacheco Pereira. Para o comentador televisivo, apesar "grande vitória do PSD" e da "grande derrota do PS", "ninguém mandou Miguel Albuquerque fazer a promessa que fez. Tem que haver uma penalização para estas coisas", argumentou ontem à noite na CNN Portugal.

No seu entender apesar do significado de importância eleitoral desses dois factos - vitória da coligação e derrota socialista, há um "terrível mas" e essa foi a "promessa que foi claríssima, explícita antes" das eleições. Por isso entende que deve mesmo haver uma penalização para estas coisas", porque "a fórmula não era, vou tentar arranjar um governo de maioria absoluta, mas sim só governo com maioria absoluta. E isto é um factor de descrédito da vida política", sentenciou.

Além de entender que Miguel Albuquerque "não precisava de o dizer, tanto porque o Chega aumentou a votação e o número de deputados", destacando que este partido, "o PCP e o Bloco de Esquerda recuperaram posições, a Iniciativa Liberal teve também um bom resultado e, portanto, há uma fragmentação do sistema político na Madeira que não existia antes".

Para além disso, "a coligação que ganhou as eleições é PSD e CDS e quando comparamos os votos e o número de deputados desceu, mas ninguém tira o mérito da vitória", reconhece. "Agora, qual é o problema, fazendo de conta que não sei qual a promessa que ele fez? Porque ele podia perfeitamente sair de cena e o PSD continuar a governar, terem até mais liberdade para negociar a coligação, cumprindo [Miguel Albuquerque] a sua palavra. Porque senão daqui a pouco ninguém acredita na palavra das pessoas. E é isso que lança, evidentemente, uma sombra sobre as questões do Chega".

Face ao acordo com o PAN, reconhece que "também é verdade que não houve nenhuma tentativa de falar com o Chega porque não era preciso", deixando Pacheco Pereira a ideia que "não sabemos o que aconteceria se os votos dos deputados do Chega fossem precisos. Excelente, não foram precisos. Correu bem".

Para o militante social-democrata "o acordo com o PAN é altamente instável", uma solução governativa que não o convence, e explica porquê: "Primeiro pela pessoa [Mónica Freitas], é preciso conhecer o que disseram, os programas que tinham na rádio. Espero eu que não haja reconversões miraculosas", independentemente de ter sido uma escolha por relações pessoais conflituosas com o eleito do IL, Nuno Morna, e não com a deputada do PAN. "De qualquer das formas é uma solução instável. E ver-se-á rapidamente".

Pacheco Pereira diz que desta situação sai um "aspecto positivo", que foi pela primeira vez o líder nacional do PSD, Luís Montenegro ter dito que não fará aliança com o Chega. "Mas é preciso compreender as consequências disso, pois se não houver uma maioria à direita, o que vai acontecer é que quem vai governar é uma nova forma de geringonça. É preciso ser explícito que mesmo nesse cenário não haverá acordo com o Chega. Isso exige muito poder político, muita coerência e muita percepção do que seria para o PSD um acordo com o Chega, porque no continente têm maior peso do que têm na Madeira e os resultados na Madeira mostraram que continuam a ter dinamismo eleitoral", concluiu.