DNOTICIAS.PT
Artigos

E o tempo da responsabilidade política?

A tragédia dos incêndios voltou à nossa Região. Muitas pessoas perderam os seus haveres, algumas os bens de uma vida, tanta gente pegou em pás e mangueiras e enfrentou o fogo a tentar salvar a sua casa e os seus animais. Os bombeiros, sempre incansáveis, cumpriram a sua missão com dedicação e competência. Um Louvor a estes profissionais e aos voluntários que estiveram na linha da frente e uma palavra de solidariedade a toda a população afetada.

Urge, neste momento, ajudar quem perdeu o que tanto custou a construir. A recuperação é uma prioridade. Os apoios são necessários e devem chegar o mais rápido possível às vítimas deste flagelo que voltou a nos atingir de forma tão cruel.

O destino dos incendiários ficará à responsabilidade dos tribunais, enquanto os indícios e suspeitas de fogo posto estão na alçada da investigação da Polícia Judiciária.

Mas, e a responsabilidade política de quem nos governa? Que silêncio ensurdecedor! Os responsáveis políticos não deveriam vir a público pedir desculpa às populações? Não deveriam vir assumir que, apesar da vulnerabilidade do nosso território e das alterações climáticas, não foram capazes de desenvolver, com eficácia, as estratégias necessárias do âmbito da prevenção, da coordenação e intervenção cooperativa com outras entidades públicas e privadas na limpeza de invasoras e de infestantes, da criação de novas valências para os terrenos baldios, da planificação e gestão da nossa floresta, de modo a salvaguardar a segurança de pessoas e bens, bem como a proteção do nosso património natural e de todas as atividades turísticas e desportivas de natureza?

Ao fim de quase 50 anos de governação, onde está o Plano Regional de Defesa da Floresta contra Incêndios? É evidente que, mais uma vez, falharam e remeteram-se a um silêncio comprometedor.

Percebe-se, mais uma vez, que não só as prioridades deste Governo estão invertidas, como desconhecem também a importância estratégica da floresta para o nosso desenvolvimento sustentável.

É o próprio presidente do Governo que vem afirmar, sem qualquer vergonha, que “não é possível limpar os eucaliptos nem o mato e que intervir na floresta custa milhões”. Para o senhor presidente, intervir na floresta não é um investimento, mas um custo e parece que lhe sai mais barato apagar fogos, gastar dinheiro na recuperação das zonas afetadas e pagar os custos de todas as terríveis consequências, do que intervir na floresta de forma planeada, coordenada e eficaz, mesmo que seja imperioso investir milhões de euros, em prol do nosso futuro.

Noutras intervenções públicas, como se não tivesse responsabilidades de governação, defende “limpezas seletivas em zonas estratégicas” e também já “admite o alargamento das áreas de pastoreio como forma de mitigar incêndios”.

Aos anos que o PS vem defendendo, na Assembleia, com propostas concretas, a importância do pastoreio ordenado na limpeza das matas e a urgência em adaptar o modelo aos desafios atuais, entre outras medidas estruturais que implicavam a gestão ativa da floresta de modo a envolver a população e as autarquias. Apresentamos ainda medidas para contrariar o despovoamento e o abandono dos terrenos, através da valorização da agricultura e dos produtos regionais, e consideramos fundamental proceder a uma avaliação independente da floresta e à atualização do inventário florestal para identificar as suas vulnerabilidades.

Contudo, as propostas apresentadas pelo PS, ao longo de 4 anos de legislatura, foram sempre recusadas e desvalorizadas sem argumentos nem alternativas de quem governa, mas com demasiadas palavras cheias de arrogância.

E, hoje, quem assume as responsabilidades políticas?