Corre Cafôfo, corre

Foi assim no sindicato dos professores. Foi assim na câmara do Funchal. Foi assim na assembleia. Será assim na secretaria de estado das comunidades. Sempre que lhe cheira a perigo, sempre que lhe acenam com um lugarzinho melhor, e por melhor entenda-se mais dinheiro e menos trabalho, lá vai Paulo Cafôfo a correr sem olhar para trás, nem para ninguém.

O seu percurso tem sido aos saltinhos. Saltou da escola para o sindicato, do sindicato para a câmara municipal, da câmara municipal para presidente do PS e para o parlamento, do parlamento para o governo da república. Não aquece muito tempo os lugares, porque depressa lhe descobrem a falta de preparação e a fraca capacidade de trabalho.

Agora, ensaia novo saltinho, novamente para a presidência do PS, que está órfão de alguém que pegue no partido depois da sova que levou nas últimas eleições. Cafôfo versão 2.0 é o «men for the job». O homem ideal para esse trabalho. Dono de uma confiança inabalável nas qualidades que não tem; senhor de uma visão estratégica que não vai muito para lá do seu umbigo; e detentor de um blá blá ao nível da oratória e retórica de Sócrates (não aquele que estão a pensar. O outro, o filósofo grego); a protocandidatura de Cafôfo foi recebido em apoteose nas hostes socialistas sebastianistas, sempre mais fiéis a divinos milagres do que a competência e trabalho.

Mas porque quer saltar agora para a Madeira. Por três razões. A primeira, é com receio de que o vazio deixado pela anunciada saída de Sérgio Gonçalves seja ocupado por uma das outras alas do partido: a de Carlos Pereira, a de Emanuel Câmara (apoiado pela JS), ou uma terceira via liderada por Liliana Rodrigues. Há também a possibilidade de Célia Pessegueiro (& Victor Freitas) concluir que Cafôfo, Iglésias e companhia já não são necessários e avançar, fragmentando ainda mais o partido.

A segunda razão, está relacionado com o que acima se escreveu: quando fica muito tempo num lugar, a impreparação e a falta de capacidade de trabalho tornam-se visíveis, e o secretário de Estado Cafôfo já esgotou o rol de promessas para as comunidades, e como não cumpre nada do que diz (veja-se os anunciados voos diretos de Caracas! ou os problemas com os consulados), tem perdido espaço e credibilidade junto dos emigrantes.

A terceira razão, para o renascimento socialista de Cafôfo 2.0 está relacionada com os problemas do seu chefe, o ministro Cravinho dos Negócios Estrangeiros, com a justiça. O ministro já foi envolvido por um dos arguidos num caso de corrupção na Defesa, e se for constituído arguido deverá deixar o governo, levando os secretários de Estado com ele. E sem lugar na assembleia, restava ao professor Cafôfo regressar à escola. A sua grande paixão, só que é uma paixão há distância.

Teresa Gonçalves