Director da Prisão do Funchal diz que a contestação é "sinal de que foi feita alguma coisa"
O dirigente que se prepara para ir para reforma garante que deixa o cargo com o sentimento de "dever cumprido"
O ainda director do Estabelecimento Prisional do Funchal, Fernando Santos, que se prepara para abandonar o cargo ao fim de quase 30 anos, diz que sai com o sentimento de “dever cumprido”.
Em 1994 fui convidado para dirigir este estabelecimento que apenas tinha paredes (...) e, ao longo destes anos todos, é evidente que existiram coisas muito positivas e algumas mais desagradáveis, mas acima de tudo penso que cumpri o dever. Não foi fácil numa fase inicial, mas quando as coisas começam a ser feitas e de forma séria, com toda a equipa que tive o privilégio de dirigir, a obra vai começando a surgir Fernando Santos, director cessante do Estabelecimento Prisional do Funchal
À margem da audiência do representante da República, Ireneu Cabral Barreto, ao director-geral da Reinserção e Serviços Prisionais, Rui Abrunhosa, Fernando Santos afirmou que foi atingido o "trabalho que a população esperava" de si.
"O que se pretendia era fazer uma casa de referência, em termos de um trabalho de qualidade para as pessoas que lá estão contrariadas, claro, e fazermos tudo aquilo que a lei de determina, cumprindo rigorosamente com todos os direitos e deveres. (...) Foi aquilo que o sistema esperava de nós, por isso estivemos cá estes 29 anos", sublinhou.
Evidentemente que ao longo da sua liderança, Fernando Santos reconhece algumas queixas que foram surgindo, mas frisa que "a contestação é sinal de que foi feita alguma coisa".
Quando as pessoas se afirmam e cumprem aquilo que a lei espera de nós vai sempre surgir alguém que não concorde com aquilo que foi feito. E durante este tempo nunca tive nenhum processo em termos internos e aquilo que decidi foi sempre dentro da legalidade Fernando Santos, director cessante do Estabelecimento Prisional do Funchal
Em termos positivos, o director destaca o investimento realizado ao nível do ensino. "Tivemos reclusos que entraram com a quarta classe e, neste momento, são doutorados. Actualmente temos 8 reclusos a frequentar o Ensino Superior. Além disso, normalmente todos os anos, temos mais de 50% da população a frequentar o ensino oficial", referiu, acrescentando também alguns feitos ao nível desportivo, os protocolos estabelecidos com todas as Câmaras Municipais ao nível da colocação laboral e também o relacionamento institucional, em que todos "reconhecem o Estabelecimento Prisional do Funchal como uma instituição madura, respeitadora e que também se faz respeitar".
Quanto ao trabalho que ficou por fazer, Fernando Santos realça o facto de não conseguir finalizar as obras na cozinha da Prisão. No entanto, garante que não foi por culpa da direcção do EPF. "Desde 2006 que andamos à procura de apoios para que isso seja feito", frisou.
Por fim, sobre o seu sucessor, Paulo Rio, que actualmente dirige o Estabelecimento Prisional da Ponta Delgada, nos Açores, o director deixa a mensagem para que "seja ele próprio" e, acima de tudo, "que não altere aquilo que a legalidade define".
Para aqueles que no dia-a-dia são a razão de ser do nosso trabalho, que seja respeitado pelos próprios e que eles possam saber que têm um fim em vista ou a criação de condições para que um dia, na liberdade, possam regressar de forma cabeça levantada e saber que passaram algum tempo em reclusão mas que lhes mudou a vida Fernando Santos, director cessante do Estabelecimento Prisional do Funchal
O Estabelecimento Prisional do Funchal conta actualmente com 315 reclusos.