Serão os incêndios de alguma dimensão recorrentes nos Prazeres?
O fogo que nos últimos dias deixou um rasto de destruição considerável nas freguesias dos Prazeres, Fajã da Ovelha, Ponta do Pargo, Achadas da Cruz e Porto Moniz teve início num fogo que deflagrou, no final da tarde da última quarta-feira, no sítio do Lombo da Rocha, na parte mais baixa da freguesia dos Prazeres.
À parte dos muitos comentários que têm inundado as redes sociais sobre a possível origem criminosa do fogo, com críticas também à gestão da floresta e à forma como a comunidade tem sido passiva em relação às medidas preventivas, nomeadamente a limpeza dos terrenos, já houve quem alertasse para a recorrência de incêndios com alguma dimensão na freguesia dos Prazeres, e alguns com início também no Lombo da Rocha, praticamente todos os anos, apontando que dado conhecimento desse histórico, o fogo deveria ter sido atacado, inicialmente, com maior vigor. Mas será mesmo verdade que os grandes incêndios são recorrentes no Lombo da Rocha? É isso que vamos tentar esclarecer.
Recuando no tempo, através dos arquivos do DIÁRIO, constatámos que em 2021 houve um incêndio com alguma dimensão na freguesia dos Prazeres, que chegou a assustar alguns moradores do Lombo da Rocha, local onde deflagrou o fogo na última quarta-feira.
Na altura, um fogo deflagrou numa zona de floresta e mato, por volta das 2 horas da madrugada do dia 27 de Agosto, tendo mobilizado diversos meios e permanecido activo por várias horas. Na ocasião, o presidente da Câmara Municipal da Calheta, à semelhança do que aconteceu esta semana, deu conta de suspeitas de fogo posto. As chamas consumiram a zona entre o Hotel Jardim Atlântico e a zona comercial perto da Via Expresso.
O medo de que o fogo se propagasse para a zona da Maloeira ou para as residências fez com que muitos não pregassem olho durante a noite, algo que se repetiu, uma vez mais, na passada quarta-feira.
Em Fevereiro de 2012, outro incêndios, “de média dimensão” chegou a assustar a localidade. Conforme noticiava o DIÁRIO na altura, “pelo terceiro dia consecutivo os Bombeiros Voluntários da Calheta (BVC) foram chamados a combater um incêndio no concelho que, novamente, colocou em risco várias residências habitadas. As chamas começaram por volta do meio-dia e meia, no sítio dos Picos, nos Prazeres”, líamos na edição do dia 10.
O comandante de então dos BVC, João Alegria, dizia tratar-se de “um incêndio de média dimensão, mas inicialmente chegou a assustar”, admitia ao DIÁRIO, explicando que várias residências foram ameaçadas. O fogo consumiu mato seco, carqueja e canas, andando perto de casas e terrenos cultivados.
Uns dias antes, outro incêndio, mas no Jardim Pelado, tinha dado bastante trabalho aos bombeiros.
No início de Abril de 2012, nova saída dos bombeiros para um fogo que durou quase dois dias e que consumiu vegetação entre os Prazeres a e a Fonte do Bispo. “Um fogo de grandes dimensões está a consumir, desde o final da noite de sábado, uma zona florestal entre os Prazeres e a Fonte do Bispo, no concelho da Calheta”, podíamos ler na edição de dia 2.
Em 2008 outro incêndio teria consequências desastrosas, tendo levado, inclusive, à destruição de uma viatura da corporação local. “Uma bombeira ferida num acidente que ditou a destruição de uma viatura da corporação dos Voluntários da Calheta, algumas dezenas de árvores novas perdidas e uma extensa área de mato ardida é o balanço do incêndio de origem desconhecida que lavrou entre a madrugada de domingo a de ontem na freguesia dos Prazeres”, dava conta o DIÁRIO a 29 de Janeiro.
“O incêndio, que se dividiu a certa altura em pelo menos três frentes, lavrou, com a ajuda do vento, sobre uma extensa área de pinheiros e eucaliptos, localizada entre os sítios da Estacada e Lombo Coelho e fronteira da freguesia dos Prazeres com a Estrela da Calheta. No entanto, a principal fonte de combustível das chamas foi a vegetação rasteira, nomeadamente silvado, giesta, carqueja, acácias e feiteiras. Várias residências estiveram sob ameaça directa das chamas, designadamente no sítio da Estacada”, acrescentávamos na altura.
Recuando um pouco mais, a 25 de Setembro de 1995, outro fogo florestal tirou o sono à população daquela freguesia da Calheta. Um incêndio de grande extensão ganhou espaço numa vasta área florestal daquela localidade. O fogo que deflagrou no Lombo do Coelho e no Lombo da Velha viria a consumir vegetação ao longo de toda a noite, sendo dado como extinto apenas no dia seguinte. Estiveram no combate ao fogo os Bombeiros Voluntários da Calheta e o Voluntários Madeirenses.
Além destes, outros incêndios têm ocorrido. O DIÁRIO falou com o actual presidente da Junta de Freguesia dos Prazeres, questionando-o se é comum haver incêndios na localidade. Paulo Ferreira, sem dúvidas na resposta, refere que “é raro o ano em que não há incêndios na freguesia”, apontando que não têm altura certa para ocorrer.
“Já tivemos incêndios em Janeiros, como já tivemos em Agosto, ou agora em Outubro”, justifica, completando que “geralmente são incêndios de grandes dimensões”, que além de perigarem os espaços verdes, com floresta ou mato, costumam ameaçar várias habitações. Além disso, o autarca refere que, na maioria dos casos, a suspeita de fogo posto é sempre levantada, dadas as condições em que surge o incêndio, muitos deles no período nocturno. “Se não houver incendiários, não temos incêndios nos Prazeres”, atira o presidente da Junta, em jeito de solução para o problema.
Perante o relatado, podemos concluir que os incêndios de alguma dimensão são comuns na freguesia dos Prazeres, considerando-se, assim, verdadeira a afirmação do internauta que dava conta de que “quase todos os anos há grandes incêndios nos Prazeres, alguns no mesmo local, no Lombo da Rocha”.
