Transportar milhares de doentes para sul de Gaza poderá ser sentença de morte
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou no sábado que a deslocação forçada de milhares de doentes do norte da Faixa de Gaza para hospitais sobrelotados no sul daquele território palestiniano poderá equivaler "a uma sentença de morte".
O Exército israelita ordenou a todos os habitantes do norte da Faixa de Gaza, incluindo os doentes e os feridos, que se deslocassem para o sul, para poder lançar uma ofensiva militar terrestre contra o movimento islamita palestiniano Hamas, no poder naquele enclave palestiniano desde 2007 e que levou a cabo um sangrento ataque surpresa a Israel há uma semana.
"A OMS condena veementemente as repetidas ordens israelitas para evacuar 22 hospitais, que tratam mais de 2.000 doentes no norte da Faixa de Gaza", declarou a agência especializada da ONU num comunicado.
Deslocar 2.000 doentes para o sul de Gaza, "onde os estabelecimentos de saúde atingiram já o máximo da sua capacidade e são incapazes de absorver um aumento considerável do número de doentes, poderá ser o equivalente a uma sentença de morte", sustentou a organização.
Mais de 1.400 pessoas foram mortas pelos combatentes do Hamas, a maioria das quais civis, incluindo crianças, e pelo menos 150 pessoas foram capturadas como reféns, segundo as autoridades israelitas.
A forte resposta israelita fez mais de 2.200 mortos na Faixa de Gaza, entre os quais mais de 700 crianças, e mais de 8.700 feridos, segundo o Hamas.
"A deslocação forçada de doentes e profissionais de saúde agravará mais ainda a presente catástrofe humanitária e de saúde pública", defendeu a OMS.
As pessoas gravemente doentes, nos cuidados intensivos ou a fazer hemodiálise, os recém-nascidos em incubadoras, as grávidas com complicações "correm todos o risco de uma deterioração imediata do seu estado ou de morte, se forem obrigados a deslocar-se e forem privados de cuidados vitais durante a sua deslocação", advertiu a agência das Nações Unidas.
Os profissionais de saúde do norte da Faixa de Gaza são confrontados com "escolhas angustiantes" entre abandonar os seus doentes, expô-los ao risco de morte ao deslocá-los e pôr as suas próprias vidas em perigo ficando ao lado deles.
"Na grande maioria, os profissionais de saúde escolheram ficar e manterem-se fiéis ao juramento que fizeram de 'não fazer mal'", sublinhou a OMS.
Às 16:00 locais de sábado (14:00 de Lisboa), terminou o prazo do último ultimato feito pelo Exército israelita para que os civis do norte da Faixa de Gaza abandonassem a região e se dirigissem para o sul do território.
Depois disso, o Exército de Israel ameaça "atacar com força total".
O ultimato afeta l,1 milhões de pessoas -- quase metade da população daquele enclave palestiniano pobre.