Começou a época venatória no PS

Já são 13 líderes do PS em 47 anos de autonomia. Uma lista que começa em Gil Martins, continua em João da Conceição, prossegue com Emanuel Jardim Fernandes, depois Mota Torres e José António Cardoso, segue com João Carlos Gouveia que antecedeu Jacinto Serrão, depois Victor Freitas, Jacinto Serrão outra vez, Carlos Pereira, Emanuel Câmara, Paulo Cafôfo e Sérgio Gonçalves…

Qual foi resultado de tudo isto? Uma sucessão de desaires eleitorais, mais ou menos estrondosos, quase todos vergonhosos, a que se seguiram demissões, traições, muita lavagem de roupa suja. Uma enorme desilusão para os verdadeiros militantes, uma piada de mau gosto para os madeirenses.

O que o partido aprendeu com isto? Nada. Basta ver o que aconteceu nos dias depois de mais uma derrota, uma das piores do partido, em que o PS perdeu metade dos votos e metade dos lugares que tinha na assembleia regional. Em vez de estarem preocupados em fazer uma reflexão séria sobre as razões que levam os eleitores madeirenses a não confiarem no PS, começaram logo a afiar as facas para escolher um sucessor para Sérgio Gonçalves que melhor sirva os interesses dos que mandam há anos no partido.

O que fica de tanta derrota? Ficam os discursos à volta do défice democrático (o que nas entrelinhas significa chamar os madeirenses de burros), as acusações ao CDS de ter traído os madeirenses agora dirigidos para o PAN. Tudo manobras de diversão, para justificar a hegemonia do PSD que com bons quadros, boas políticas e um projecto de desenvolvimento responsável que coloca os madeirenses em primeiro lugar, continua a vencer eleições. Mesmo tendo se renovado – quer durante os mandatos de Alberto João Jardim, e principalmente agora, com a liderança de Miguel Albuquerque –, mesmo governando em conjunturas internacionais difíceis (crises imobiliárias, guerras…), mesmo com má imprensa, mesmo com tantos bloqueios de Lisboa. Mesmo com tudo isto, o PSD tem sabido responder aos anseios da população, apostar num desenvolvimento sustentado e investir no futuro das novas gerações.

E agora? Agora contam-se espingardas porque está aberta a temporada de caça no PS. Nesta época venatória socialista, que ocorre mais ou menos de quatro em quatro anos, o que interessa não é encontrar um projecto político para a Madeira. O que importa é arranjar uma liderança que não belisque os interesses instalados dos que gravitam desde sempre à volta do partido e que se alimentam do orçamento da assembleia regional. É aí que surge Cafôfo. O candidato ideal para manter tudo na mesma. Sem ideias, sem projectos, sem uma linha orientadora. Uma vacuidade política, mas inofensivo para quem realmente manda no partido e quer continuar a mandar. Por isso, a máquina socialista, que emperra sempre nas eleições, prepara-se para fazer o que melhor sabe fazer: aniquilar a concorrência interna. Começou a caça aos Pereira’s, aos Gouveia’s, aos Câmara’s, aos Franco’s e a todos os outros que ousem pensar diferente.

Como escreveu Lampedusa: “É preciso mudar, para que tudo continue na mesma”.

Teresa Jesus