Sopros não apagam fogos
Os aproveitamentos políticos sempre que há tragédias na Região são dispensáveis. Para além de nada resolverem, contribuem para a ridicularização dos oportunistas
Boa noite!
Hoje vi lume nas encostas da vila que me viu crescer e em que fui feliz. Cortou-me o coração ver o Porto Moniz a arder. Não me lembro de tamanho sobressalto num recanto encantado, mais propício a levadias ou a derrocadas do que a incêndios. Mas sei que naquele povo com norte, a fé será sempre mais forte do que o desespero. Coragem.
Hoje ouvi gente dita séria de vários quadrantes a tentar fazer política com a desgraça colectiva, num aproveitamento descarado das circunstâncias, apesar de mais uma vez ser evidente a falta de meios de combate quando há incêndios em várias frentes, a negligência estratégica de quem manda deixar arder até que por magia tudo se esfume e a permissividade geradora de pirómanos, a que se junta o tempo alterado e quente, a abundância de material combustível, os terrenos por cuidar e algum desordenamento territorial.
Só que não é com sopros oportunistas que se apagam fogos, nem é esticando a corda intervencionista que a água brota com maior pressão das mangueiras. Mais valia que nada dissessem os que quiseram dar ar da sua graça, com a habitual narrativa delinquente e falta de bom senso, pois esta não é hora nem de dar foguetes, nem de apanhar canas.
E como o tempo é de agir, por exemplo, informando com seriedade, hoje vi com orgulho, cidadãos empenhados, bem mais eficazes do que alguns eleitos que se julgam importantes, intervindo no combate às chamas, sendo solidários com os mais frágeis, abrindo a porta de casa a quem teme o pior e pedindo bens essenciais para que sejam satisfeitas necessidades imediatas. E também vi a determinação daqueles que com colete ou farda, divisas ou sem galões nos protegem da incúria humana e do desleixo institucionalizado.
Quando a tormenta passar, esperemos que em breve, há muito para reflectir. Aí sim, porventura sem o conforto dos gabinetes com ar condicionado, será altura de cobrar promessas não cumpridas e sobrancerias inacreditáveis. Até lá, mesmo sabendo que os incendiários não alinham em causas nobres, o que nos deve mover a todos é salvar pessoas, animais e bens, mas também a honra que resta dos que se perdem com posturas ridículas.