DNOTICIAS.PT
Incêndios Madeira

É a primeira vez este ano que é identificado um suspeito de fogo posto?

Na maioria das vezes, as autoridades, quando chamadas ao terreno, não conseguem confirmar as suspeitas da população ou recolher indícios

Incêndio na Calheta mobiliza todas as corporações de bombeiros da Madeira.
Incêndio na Calheta mobiliza todas as corporações de bombeiros da Madeira., Foto Miguel Espada/Aspress

Nos últimos dias, os concelhos da costa sul da Região Autónoma da Madeira (Calheta, Ponta do Sol, Ribeira Brava e Câmara de Lobos) têm sido fustigados por incêndios, alguns deles com gravidade, como aquele que ainda se encontra activo no município da Calheta e obrigou, já durante a noite de quarta-feira e ao longo desta quinta-feira, 12 de Novembro, a evacuar vários locais [centro de saúde, escola, hotel, habitações]. Também no Curral das Freiras, no concelho de Câmara de Lobos, um incêndio continua a gerar preocupação.

Nos momentos de maior aflição, vários populares não têm deixado de apontar mão criminosa nestes incêndios, referindo que os supostos incendiários nunca são punidos. Mas será mesmo assim? 

Em alguns casos, apesar dos residentes nas zonas afectadas acreditarem que a origem do fogo tem mão criminosa, as autoridades policiais, quando chamadas ao terreno para investigar a situação, não conseguem identificar indícios ou suspeitos. No incêndio que deflagrou ontem na Calheta, o caso parece ser diferente, uma vez que a sinalização feita por alguns moradores possibilitou que um alegado incendiário fosse identificado.

Ao início desta manhã, o secretário regional de Saúde e Protecção Civil, Pedro Ramos, que se encontrava a visitar as zonas fustigadas pelos fogos na Calheta, pedia “mão pesada” e também a todas as pessoas que fizessem “o favor de sinalizar e ligarem para a PSP para que o seu trabalho seja realizado, e para que possamos controlar melhor estes indivíduos que não se sabe bem porque têm esses actos, mas que podem pôr em risco não só a sua própria vida, como a vida dos outros e o nosso património”.

Ainda antes, na terça-feira à noite, num balanço pedido pelo DIÁRIO ao incêndio nos Prazeres, também no concelho da Calheta, o autarca Carlos Teles apontava “mão criminosa”, sobretudo pela hora a que deflagraram os fogos. “Há suspeitas, mas não há provas. Na zona onde foi e a esta hora da noite [23h52] não é muito normal que deflagre um incêndio do nada. As suspeitas de fogo posto são muito fortes, mas para isso as autoridades estão a trabalhar no terreno tanto a Polícia Judiciária como as outras entidades com responsabilidade na matéria. Temos de deixá-los trabalhar”, disse.

Também no Curral das Freiras, no concelho de Câmara de Lobos, um incêndio gerou, durante o dia de hoje, alguma preocupação. Mas aqui a actuação das autoridades foi bem célere, pois ao início da tarde a Polícia Florestal, sob a alçada do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza, identificou um indivíduo em flagrante delito. Trata-se de um homem de 78 anos que terá alegadamente feito uma fogueira, da qual perdeu o controlo, tendo provocado o incêndio.

Este foco de incêndio obrigou a evacuar algumas casas por precaução devido à proximidade das chamas e à intensidade do fumo, conforme afirmou o presidente da Câmara Municipal de Câmara de Lobos, em declarações ao DIÁRIO e TSF/Madeira.

A propósito destas ocorrências ‘fora de época’, atendendo a que estamos no Outono e seria de perspectivar temperaturas mais conformes com a estação, o presidente do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza confirmou, em declarações à RTP/M e à Antena 1, em dois momentos diferentes, que os fogos têm origem criminosa.

“Foram fogos deliberadamente e intencionalmente colocados”, em que há claros indícios no terreno de fogo posto, onde foram encontrados “artefactos que evidenciam clara intenção de pegar fogo à floresta”, assumiu Manuel Filipe, apontando que a Polícia Florestal fez expediente e remeteu toda a informação à Polícia Judiciária.

Foi também o governante que afirmou que já este ano, no início do Verão, a Polícia Florestal deteve um incendiário em flagrante delito.

Incêndios com mão humana (vídeo)

A Polícia Florestal tem recolhido provas de haver mão criminosa nos ...

Como o DIÁRIO deu nota, em tempo oportuno, o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais da Região Autónoma da Madeira (DECIR-RAM), no âmbito do Plano Operacional de Combate a Incêndios Rurais 2023 (POCIR 2023), custou este ano quase um milhão de euros, a que se juntou o valor da alocação do helicóptero, para reforçar os meios de vigilância e combate a fogos no período que decorre de 1 de Junho a 30 de Novembro.

No território continental, lembrando dados disponíveis até 2 de Agosto de 2022, a GNR (Guarda Nacional Republicana) dava conta que tinha detido 66 pessoas por suspeita de terem ateado incêndios, um número que é superior ao total de anos anteriores: em 2021, foram detidas 52 pessoas, o mesmo número que em 2020. Já em 2019, foram detidas 58 pessoas.

Nas redes sociais não faltam comentários em tons de crítica sobre a impunidade de alguns cidadãos que mantêm comportamentos pouco correctos, mesmo em dias de maior calor e quando as queimadas estão proibidas. Um cibernauta diz mesmo que: "Os incendiários nunca são punidos e as autoridades nada fazem quando os apanham".