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“Os meus amigos eram para vir, mas emigraram”

Entretanto, ficamos com as promessas deste governo por cumprir. Falta cumprir a promessa, dada em 2015, das 7500 casas para habitação acessível

É verídica. É real. É verdadeira. São estas as mais básicas e simples adjetivações que se podem fazer a uma das frases que mais impactou na última manifestação pelo direito à habitação, em Portugal.

Falhámos, falhamos e, se assim continuarmos, falharemos a todos, e em especial aos jovens.

A crise habitacional, apesar de ter gerado das mais profícuas discussões políticas – não estivessem elas carregadas de ideologia partidária –, não tem produzido nenhuma espécie de soluções, pelo menos imediatas. Antes pelo contrário.

O desespero das pessoas em conseguirem um teto para poderem sobreviver foi algo visível de forma significativa na manifestação que aconteceu no passado dia 29 de setembro, por todo o país. Não obstante isso, houve uma evidente politização dessa mesma manifestação em que, por mais incrível que pareça, os extremos, da esquerda e da direita, foram aqueles que com ela mais lucraram.

Desde logo, basta ver a apropriação desta manifestação por alguns conhecidos acéfalos “ativistas” totalitários, que de ativos têm pouco – já que a única coisa que fazem pela habitação é berrar e espernear –, que agarram a onda da frustração e da instabilidade que se vive no ramo habitacional para fazerem disso uma bandeira de combate político, onde o protagonismo é o mais certo de todos os frutos. Não fosse esta uma crise tão profunda e de solução altamente morosa, e muito rapidamente os ditos “ativistas” labregos encontrariam um outro mar de descontentamentos, que lhes permitisse cavalgar os débeis fracassos da sociedade e do Estado garantindo um autoprotagonismo (quase) perpétuo.

Por outro lado, os retrógrados da direita radical, sabendo da embriaguez ideológica com que aquela manifestação estava carregada, decidiram, ainda assim, marcar presença.

Entre assuntos sérios e testemunhos pungentes, os radicais populistas de esquerda – para além de debitarem pela televisão um discurso carregado de doutrinação – decidiram, num ato de absoluta destituição de cultura cívica e democrática, vaiar e empurrar os deputados da direita radical que taticamente lá estavam. Acontece que tinham o direito de lá estar, tal como qualquer outra pessoa, e cabia a quem ali protestava, por mais que, como eu, deles discordasse, manter-se sereno e plácido tal como a democracia assim o exige. Mas não, fizeram exatamente o contrário. Deram ainda mais razões e palco para o jogo de vitimização constante que eles tanto gostam, ao ponto dos próprios se vislumbrarem e deliciarem-se estupidamente com um cordão humano de polícias à sua volta, num episódio em que não resistiram a uma selfie à la Marcelo no meio de tanto policial, com os holofotes para eles apontados.

Entretanto, ficamos com as promessas deste governo por cumprir. Falta cumprir a promessa, dada em 2015, das 7500 casas para habitação acessível. Falta cumprir a intenção de ter 5% do parque habitacional com apoio público. Falta cumprir a promessa de que até 2024 se resolverá todas as situações de carência habitacional. Falta cumprir as promessas relativas ao Programa de Arrendamento Acessível. Falta cumprir o Programa Nacional de Habitação. E tenho a leve suspeita de que vai faltar cumprir o Programa ‘Mais Habitação’.

Um exemplo da plena falha deste governo socialista é o facto de que entre 2015 e 2019 se construíram 296 fogos públicos, o que dá uma média de 59 fogos por ano. Ora, este é o mais baixo valor desde 1970 e corresponde a um quinto daquilo que foi construído durante o período da troika.

Se for este o caminho a seguir para futuro, continuaremos a dizer que “os meus amigos eram para vir, mas emigraram.”