Bons são os outros
A selecção portuguesa assumiu finalmente ser 'albergue espanhol'
Boa noite!
Contrariando a tese de que de Espanha não chegam “nem bons ventos, nem bons casamentos”, a Federação Portuguesa de Futebol contratou um seleccionador catalão com a missão de fazer melhor do que Fernando Santos que, diga-se, foi campeão europeu em 2016 e venceu a Liga das Nações em 2019, sentou Ronaldo no banco e também por isso passou de bestial a dispensável.
A fasquia está alta e para tal Roberto Martínez terá que ganhar, no mínimo, o Euro2024 e, já agora, o próximo Mundial, se é que aguenta influências e ingerências, recomendações e comentários até 2026.
Portugal não é a Bélgica. Num país que exporta treinadores para todo o Mundo, alguns deles campeões em diversas frentes e latitudes, clubes e selecções, e não encontra nenhum com talento suficiente para orientar a equipa das quinas, o Presidente da República comenta táticas, o primeiro-ministro faz apostas e o presidente do governo regional também dá palpites sobre o onze ideal. Num país que alimenta a ilusão de que “o que vem de fora é que é bom”, excepto se for vinho, cortiça e intrigas, a selecção é também expressão da globalização, pois não é de agora que é lugar onde cabe toda a gente, qual 'albergue espanhol'. Num país onde não basta ter mérito, nem potencialidades inatas, a inveja obriga em investimento em marketing, cunha e sorte, expedientes que dão trabalho acrescido, tal o número de treinadores de bancada especializados em desdenhar.
De pouco servirá a Roberto Martínez assegurar que não toma “decisões por despacho”, que quer conhecer todos os jogadores - e que “Cristiano será um deles” - e que está entusiasmado com uma geração de craques que permitem “sonhar alto”. Se a bola não entrar, bons serão os outros.