Mundo

Parte "importante do acervo" artístico foi destruída e vandalizada

None
Foto EPA

Parte "importante do acervo artístico e arquitetónico" reunido no Palácio do Planalto foi "vandalizado e destruído" pelos manifestantes bolsonaristas que invadiram o edíficio da Presidência do Brasil este domingo, segundo uma nota hoje divulgada pela presidência brasileira.

"Os terroristas que invadiram o Palácio do Planalto neste domingo vandalizaram e destruíram parte importante do acervo artístico e arquitetónico ali e que representa um capítulo importante da história nacional", informa-se na nota.

"Ainda não é possível ter um levantamento minucioso de todas as pinturas, esculturas e peças de mobiliário destruídas, mas a avaliação preliminar feita pela equipa responsável aponta [múltiplos] estragos em peças icónicas do acervo", que a Presidência brasileira identifica.

Entre estas, além das fotografias dos ex-chefes de Estado do Brasil expostas na Galeria dos ex-presidentes --- "totalmente destruída" -, retiradas da parede, atiradas ao chão e quebradas, destacam-se a pintura "As mulatas", de Di Cavalcanti --- a principal peça do Salão Nobre do Palácio do Planalto, "encontrada com sete rasgos, de diferentes tamanhos", segundo a nota.

"A obra é uma das mais importantes da produção de Di Cavalcanti", com um valor está estimado em 8 milhões de reais (1,4 milhões de euros), mas peças desta magnitude costumam alcançar valores até cinco vezes maiores em leilões", ainda segundo o texto divulgado no portal da Presidência brasileira.

Outra das peças destruídas é um relógio de pêndulo do Século XVII, feito por Balthazar Martinot, relojoeiro de Luis XIV, oferecido pela corte francesa a D. João VI.

Segundo a nota, "existem apenas dois relógios deste autor. O outro está exposto no Palácio de Versailles, mas tem a metade do tamanho da peça que foi completamente destruída pelos invasores do Planalto".

"O valor desta peça é considerado fora de padrão", acrescenta a Presidência brasileira.

A escultura em bronze "O Flautista", de Bruno Jorge, "foi encontrada completamente destruída, com pedaços espalhados pelo salão" e estava avaliada em 250 mil reais (cerca de 44 mil euros); uma escultura de parede em madeira, de Frans Krajcberg, estimada em 300 mil reais (cerca de 52,8 mil euros), foi partida em vários pontos e, entre outros, a mesa de trabalho de Juscelino Kubitscheck --- exposta no salão -- "foi usada como barricada" pelos manifestantes.

De acordo com o diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, "será possível realizar a recuperação da maioria das obras vandalizadas", mas o responsável estima como "muito difícil" a restauração do relógio de Balthazar Martinot.

"O valor do que foi destruído é incalculável por conta da história que ele representa. O conjunto do acervo é a representação de todos os presidentes que representaram o povo brasileiro durante este longo período que começa com JK [Juscelino Kubitscheck]. É este o seu valor histórico", afirmou Rogério Carvalho, citado na nota.

"Do ponto de vista artístico, o Planalto certamente reúne um dos mais importantes acervos do país, especialmente do Modernismo Brasileiro", acrescentou o curador.

Milhares de apoiantes do ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro invadiram e vandalizaram no domingo a sede do Congresso Nacional e sucessivamente o Palácio do Planalto, sede do Governo, e o edifício do Supremo Tribunal Federal, na capital brasileira.

Os manifestantes avançaram e furaram as barreiras montadas pela polícia, e imagens dos invasores dentro do salão verde do Congresso, dentro e fora do Palácio do Planalto e do STF foram divulgadas nas redes sociais.

Os radicais, que não reconhecem o resultado das eleições presidenciais de 30 de outubro, nas quais Lula da Silva derrotou Bolsonaro por margem estreita, pediram uma intervenção militar para derrubar o Presidente brasileiro.

A polícia brasileira começou por usar gás lacrimogéneo para tentar, sem sucesso, travar os manifestantes, mas em seguida a Polícia Militar conseguiu recuperar as três instituições e desocupar totalmente a Praça dos Três Poderes, numa operação que resultou em pelo menos 300 detenções.

A invasão, condenada de imediato pela comunidade internacional, começou depois de militantes da extrema-direita brasileira - apoiantes do anterior presidente - terem convocado um protesto para a Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Lula da Silva manteve hoje uma série de reuniões de alto nível no seu gabinete, o único local que foi poupado no domingo pela invasão.

O Presidente optou por despachar a partir do seu gabinete no Palácio do Planalto para mostrar que os atos violentos dos radicais de extrema-direita não irão paralisar as instituições de poder.