Portugal com dois velhos conhecidos e um desconhecido
Portugal tem como adversários no Grupo D da primeira fase do Mundial de andebol, a decorrer na Suécia e Polónia, as já habituais seleções da Hungria e Islândia e a desconhecida Coreia do Sul.
Por capricho do sorteio da fase final do Mundial de 2023, as seleções de Portugal, Hungria e Islândia voltam a encontrar-se na fase de grupos um ano após terem partilhado a mesma ronda do Euro2022, de má memória para os portugueses.
Na altura, Portugal foi afastado da 'main round' (fase principal) contando por derrotas os três jogos realizados, dois deles pela margem mínima, frente à Islândia (28-24), à anfitriã Hungria (31-30) -- igualmente eliminada -- e Países Baixos (32-31).
A eliminação perante 20 mil adeptos no MVM Dome, em Budapeste, levou a uma reformulação na Hungria, inclusive ao nível técnico, tendo Istvan Gulyas sido substituído pelo seu ex-adjunto, o espanhol Chema Rodríguez, treinador do Benfica.
Nos últimos meses, a Hungria, que tem vantagem no confronto direto com Portugal, tem estado cada vez melhor, evoluindo em todos os aspetos, já que Chema Rodríguez tem um saldo de vitórias francamente positivo desde que foi nomeado treinador principal.
No confronto direto entre as duas seleções, Portugal venceu apenas um jogo, por 34-26, na caminhada para o histórico sexto lugar do Euro2020, e perdeu quatro sempre pela margem mínima, no Euro2022 (31-30), na qualificação para o Euro2016 (31-30 e 26-25) e no Euro1994 (19-18), do qual foi anfitrião.
A 'revolução' operada na seleção magiar por Chema Rodriguez apresenta como principais novidades o jovem guarda-redes Kristof Palasics, de 20 anos, bem como Adam Juhász (central do Benfica), Peter Kovacsics, Szabolcs Szabolcs, Csaba Leimeter e Zoran Ilic.
Em comparação aos eleitos para a fase final do Euro2022, ficaram de fora dos convocados Daniel Bosz, Ádám Borbély, Bence Nagy, Ádám Tóth, Stefan Sunajko, Peter Hornyák, Petar Topic, Hubo Vajda, Bence Szucs, Dominik Máthé (lesionado) e Zsolt Balogh.
O central português Miguel Martins terá pela frente no encontro com a Hungria vários colegas de equipa no Pick Szeged, nomeadamente o guarda-redes Roland Mikler, os pivôs Miklós Rosta e Bence Bánhidi e os laterais Zoltán Szita e Richard Bodó.
O guarda-redes Gustavo Capdeville e o pivô Aléxis Borges, do Benfica, também reencontraram no derradeiro jogo do Grupo D, a realizar em 16 de janeiro, o central húngaro Ádám Juhász e o seu treinador no clube da Luz, o espanhol Chema Rodriguez.
Portugal abre a sua participação no Mundial frente à Islândia, na quinta-feira, em Kristianstad, num confronto que se repete pela quinta vez nos últimos dois anos (de um total de 12) e que regista uma igualdade a 2-2, com duas vitórias para cada seleção.
No entanto, a Islândia detém a vantagem no confronto direto total, já que venceu sete dos 12 jogos realizados com Portugal -- o último dos quais por 28-24 na fase final do Euro2022 -, tendo a seleção lusa triunfado nos restantes cinco.
Além de se terem cruzado no Euro2022, as duas seleções também partilharam o Grupo F do Mundial de 2021, no Egito, tendo na altura Portugal, que foi 10.º classificado, alcançado o pleno de vitórias frente Islândia (25-23), Marrocos (33-20) e Argélia (26-19).
Na qualificação para o Euro2022, as duas seleções também se defrontaram, tendo Portugal triunfado por 26-24 em casa e perdido na Islândia por 32-23, naquele que foi o resultado mais desnivelado nos jogos entre ambas as equipas.
A derrota mais amarga com a Islândia aconteceu na 'main round' do Euro2020, por 28-25, dado ter travado Portugal, que estava lançado para as meias-finais, após uma vitória expressiva por 35-25 sobre a então vice-campeã em titulo e anfitriã Suécia.
As duas seleções defrontaram-se ainda na qualificação para o Mundial de 2017, com Portugal a vencer em casa (21-20) e a perder fora (26-23), nos Mundiais de 2003, 2001 e Euro2000, nos quais a Islândia venceu sempre, e em dois jogos amigáveis, em que repartiram os triunfos.
O selecionador Gudmundur Gudmundsson convocou para o Mundial de 2023 um lote de jogadores um pouco diferente do Euro2022, em que mantém as principais referências e apresenta como principais novidades os pontas Odinn Rikhardsson e Hakon Styrmisson.
Em relação ao Euro2022 ficaram de fora das opções Teitur Einarsson, Vignir Stefánsson, Arnós Gunnarsson, Oddur Grétarsson, Orri Thorkelsson, Thráin Jónsson, Kári Kristjánsson, Daniel Ingason, Magnús Magnússon e Darri Aronsson.
O jogo entre as duas seleções também irá proporcionar vários reencontros entre jogadores, com Manuel Gaspar, Alexandre Cavalcanti e Pedro Portela, do Nantes, a cruzarem-se com o seu colega Viktor Hallgrimsson, e André Gomes, do Melsungen, com os companheiros Elvar Jónsson e Arnar Arnarsson.
A Islândia e a Hungria somam 20 jogos ao longo da sua história, incluindo oito em fases finais de mundiais, com resultados mistos, sendo que, no geral, a seleção magiar leva a melhor com 11 vitórias, contra oito derrotas e um empate.
Apesar de Portugal nunca ter defrontado a Coreia do Sul, a equipa asiática, que terminou na 31.ª e penúltima posição o Mundial de 2021, apresenta um saldo positivo sobre a Islândia, tendo o último triunfo acontecido nos Jogos Olímpicos de Pequim2008 (22-21).
A Coreia do Sul venceu quatro dos cinco jogos realizados com a Islândia, em Atenas2004 (34-30), Pequim2008 (22-21) e Mundiais de 1995 (26-23) e 1986 (30-21), enquanto os nórdicos só ganharam por uma vez em Barcelona1992 (26-24).
No que diz respeito aos confrontos entre as seleções da Coreia do Sul e da Hungria, o saldo é favorável à equipa magiar, que soma cinco vitórias -- três das quais em campeonatos do mundo - e três derrotas nos oito jogos realizados.
A Islândia não poderá contar com o central Haukur Thrastarsson, do Kielce, que rompeu os ligamentos do joelho durante uma partida da Liga dos Campeões, enquanto a Hungria está privada do lateral direito do Paris Saint-Germain Dominik Máthé, que se lesionou num joelho.
As duas seleções já não se defrontam há mais de 10 anos, e o último jogo entre ambas aconteceu nos Jogos Olímpicos Londres2012, que a Hungria venceu por 22-19, naquele que foi o seu terceiro triunfo consecutivo sobre a Coreia do Sul.
Paulo Pereira considera Islândia "osso duro de roer"
Paulo Pereira considera Islândia "osso duro de roer"
O selecionador naciona de andebol, Paulo Pereira, considerou hoje a Islândia, adversária de Portugal na ronda inaugural do Mundial, um "osso duro de roer", dado ser "teoricamente uma das melhores seleções do mundo ao nível do ataque".
"Em termos ofensivos são muito fortes. Têm dois jogadores do Magdeburgo, o central Gisli Kristiánsson e o lateral direito Ómar Ingi, o Aron Pálmarsson, que jogou no FC Barcelona, e um projeto muito ambicioso", disse à agência Lusa Paulo Pereira.
O selecionador refere que, por isso mesmo, a seleção se está a "preparar bem para entrar bem nesse primeiro jogo", a decorrer na quinta-feira, em Kistianstad, na Suécia, que é importante, mas "não irá decidir o que vai acontecer no final".
"Se perdemos com a Islândia teremos mais duas opções para lutar pela qualificação para a fase seguinte e continuar em prova", considerou Paulo Pereira, referindo-se aos restantes jogos do Grupo D, com a Coreia do Sul (sábado) e Hungria (16 de janeiro).
Paulo Pereira realçou ainda que a Islândia "possui jogadores a competir nos principais campeonatos do mundo" e destacou o equilíbrio existente ao nível de resultados recentes entre ambas as seleções, bem como o conhecimento mútuo.
"Eles conhecem-nos bem, porque temos jogado muitas vezes com eles, mas nós também os conhecemos. Nos últimos anos tem havido equilíbrio. Eles ganharam três vezes e nós duas", adiantou Paulo Pereira, no comando da seleção desde 2019.
Portugal e Islândia repetem o jogo da primeira jornada do Mundial de 2021, que a seleção lusa venceu por 25-23, na caminhada para o histórico 10.º lugar, e o selecionador nacional prevê "um jogo também equilibrado" e a "decidir nos detalhes".
A Coreia do Sul, 31.ª classificada na edição de 2021, é o segundo adversário de Portugal no Grupo D, em jogo a decorrer no sábado, mas o selecionador alerta para os perigos que podem constituir as seleções "teoricamente mais acessíveis".
"Temos que ter sempre muito cuidado com todas as seleções. A Coreia do Sul está a recuperar de uma fase menos boa e temos de ter muita atenção", afirmou Paulo Pereira, recordando a medalha de prata dos asiáticos nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988.
Paulo Pereira sustenta a sua opinião com o facto de a Coreia do Sul ter "um jogo muito baseado nos duelos, no um contra um", e possuir jogadores baixos, "que, por vezes provocam exclusões e levantam problemas às equipas que ficam durante muito tempo em inferioridade numérica".
O selecionador abordou ainda os diferentes modelos de jogo dos principais adversários de Portugal no Grupo D, com "a Islândia a finalizar mais próximo da linha dos seis metros" e "a Hungria mais da primeira linha, da zona dos nove metros".
"A Hungria tem coisas muito próximas daquilo que nós fazemos, tal como a Islândia, que tem aspetos de jogo muito similares a nós, mas são equipas, todas elas, completamente diferentes", adiantou o selecionador.
Paulo Pereira traça, à partida para o Mundial, como objetivo de participação de Portugal melhorar o 10.º lugar alcançado em 2021, que é a melhor classificação em quatro edições (1997, 2001, 2003 e 2021).
"A partir do nono lugar já cumprimos o nosso objetivo. Mas, se cumprimos este objetivo, imediatamente vamos estabelecer outro, que passa pelo apuramento para o torneio pré-olímpico [para os Jogos Olímpicos de Paris]", disse o selecionador.
Paulo Pereira destaca a evolução registada no andebol nacional, com a consecutiva presença nas fases finais dos principais eventos (Europeus, Mundiais e Jogos Olímpicos), e a fina linha que separa o sucesso do insucesso, muitas vezes por um golo.
"Portugal está permanentemente nas grandes competições e depois nós sabemos que, nas grandes competições, por um golo podemos falhar a fase seguinte ou por um golo podemos apurarmo-nos no pré-olímpico [como aconteceu para Tóquio2020]", aponta.
Paulo Pereira recorda que, "a competir com as melhores seleções do mundo", Portugal não se apurou para a fase principal do Euro2022 "por um golo" e para a segunda dos Jogos Olímpicos de Pequim "por 0,33 golos".
"Conseguimos estar nas fases finais pela sexta vez consecutiva. Há quem diga cinco, mas eu digo seis, porque o torneio pré-olímpico para mim também foi uma grande competição. Jogámos com a Tunísia, Croácia e a França, que são equipas do topo mundial", justifica.
O selecionador alarga a "praticamente sete" esta presença consecutiva em fases finais, iniciada após um jejum de 16 anos, uma vez que Portugal lidera invicto o Grupo 1 de qualificação para o Euro2024 e "está praticamente apurado".
Paulo Pereira destaca o facto de a média de idades da renovada seleção ter descido (26,6), "com as vantagens e desvantagens que isso tem", uma vez que "apresenta alguns pontos mais fortes e outros mais débeis em relação a anteriores".