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"Despedimo-nos de uma Rainha", diz Cafôfo no adeus a Linda de Suza

Comunidade portuguesa prestou, ontem, a última homenagem à cantora franco-portuguesa

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas marcou presença nas cerimónias fúnebres.
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas marcou presença nas cerimónias fúnebres., Foto Twitter

O último adeus a Linda de Suza aconteceu, ontem, em Gisors, uma cidade na Normandia, onde a cantora franco-portuguesa viveu parte da sua vida, com centenas de portugueses e franceses a lembrarem um "modelo" da imigração portuguesa em França.

Centenas de pessoas acorreram à igreja de Saint-Gervais Sainte-Protais, em Gisors, para as cerimónias fúnebres de Linda de Suza, cantora portuguesa de grande sucesso em França no início dos anos 1980, que faleceu no dia 28 de Dezembro de 2022. A cidade estava preparada para acolher cerca de mil pessoas, cortando estradas e agilizando trajectos para que o funeral decorresse da melhor forma.

Para quem aqui veio, Linda de Suza fez parte não só da banda sonora das suas vidas, mas também foi um exemplo de sucesso num país estrangeiro para quem chegava vindo de Portugal. 

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, marcou presença nas cerimónias fúnebres e destacou o papel de Linda de Suza na relação entre os dois países e, especialmente, a representação dos portugueses em França.

"Ela contribuiu para que os portugueses e as portuguesas fossem reconhecidos aqui com as suas qualidades em França e isso é um feito maior desta portuguesa que transformou a mala de cartão em ouro e platina com os seus discos e representou Portugal em França", afirmou.

Um sucesso que pode ser medido em 40 milhões de discos vendidos em todo o Mundo e três milhões de livros em França, um feito para uma artista chegada "a salto" no final dos anos 60 e que imortalizou o conceito da mala de cartão com as suas canções que falavam sobre a realidade da imigração.

As homenagens a Linda de Suza vão continuar a suceder-se em França, com o autarca de Champigny-sur-Marne, Laurent Jeanne, onde Linda de Suza chegou em 1969 tal como outros portugueses, a dizer que vai propor dar o seu nome a uma rua ou a um equipamento público na cidade.

No domingo, a associação portuguesa "Les Amis du Plateau" organizam uma homenagem pública a Linda de Suza em Champigny-sur-Marne que vai contar com a participação das autoridades locais e de Paulo Cafôfo.

Parlamento unânime no voto de pesar por "poderoso ícone da emigração"

A Assembleia da República aprovou, na sexta-feira, por unanimidade, um voto de pesar do PS pela morte da cantora Linda de Suza, que a recorda como "um poderoso ícone da emigração portuguesa".

"A Assembleia da República, reunida em plenário, manifesta o seu pesar pela morte da artista Linda de Suza, reconhecendo a importância que teve para tantas gerações de portugueses em França e para além das suas fronteiras, como um poderoso ícone da emigração portuguesa, enviando aos seus familiares e amigos as mais sentidas condolências", lê-se no voto de pesar.

No voto de pesar, o PS evoca Linda de Suza como "um poderoso ícone da emigração portuguesa, particularmente em França, que via no seu percurso um espelho dos seus objetivos de uma vida melhor, de afirmação e de reconhecimento".

"Canções como 'J'ai deux Pays pour un seul coeur', 'La Symphonie du Portugal' ou ainda 'L'étrangère', entre tantas outras da sua vasta discografia, são canções emblemáticas em que facilmente os portugueses em França se reviam pela forma aberta e sem complexos como afirmava a sua condição de emigrante, a sua luta, os seus sonhos e, sempre, a sua ligação ao país, com saudade. O facto de cantar em francês foi uma forma de afirmação perante o país de acolhimento muito importante e a voz pública de todos os portugueses", referem ainda os socialistas.

O voto de pesar cita ainda o "justo reconhecimento" do Presidente francês, Emmanuel Macron, que "considerou Linda de Suza uma 'rainha dos anos 80' e afirmou que a cantora portuguesa 'se encontrou no cruzamento de duas culturas e de duas línguas', afirmando-se como 'um ícone dos destinos cruzados dos nossos dois povos'".

"Linda de Suza é um grande símbolo da emigração portuguesa e merece ser recordada como tal", destacou o PS.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, evocou Linda de Suza como "exemplo de determinação" e "um ícone francês da imigração portuguesa e, portanto, um ícone de Portugal".

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, afirmou na rede social Twitter que Linda de Suza "levou Portugal na sua mala de cartão e na sua voz".

Nascida em 1948 em Beringel, no concelho de Beja, Linda de Suza estreou-se como cantora no restaurante "Chez Loisette", em Saint-Ouen, a Norte de Paris. No início da carreira ficou conhecida pela música "Um Português (Mala de Cartão)", no qual cantou os lamentos da saudade de quem deixou o país.

A sua história foi adaptada à televisão numa minissérie intitulada "Mala de Cartão" (1988).

Linda de Suza passou por contratempos pessoais que tiveram eco na imprensa: em 2010, tornou públicas as suas dificuldades financeiras e acusou o companheiro de lhe roubar a identidade, na época, afirmou que vivia com cerca de 400 euros mensais. Contudo, voltou aos palcos e, entre 2014 e 2017, realizou várias digressões.

Em 2020, apresentou um novo projecto, "Postais de Portugal", com o qual preparava nova digressão que a pandemia de covid-19 obrigou a cancelar.