Madeira

Cardeal Tolentino Mendonça enaltece "legado de futuro" de Bento XVI

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Foto Hélder Santos/ Aspress

O cardeal madeirense Tolentino Mendonça enalteceu o legado do Papa emérito falecido no último dia de 2022. 

Num depoimento enviado à Agência ECCLESIA, o prefeito da Congregação para a Cultura e Educação afirma que Bento XVI indica como “caminhos concretos para a busca e para a experiência de Deus” a “reabilitação da tríade bondade, verdade e beleza”.

“O ensinamento que transmitiu sobre a beleza abriu espaço para tantos diálogos e iniciativas com o campo das artes, restabelecendo uma aliança que a modernidade deixara em suspenso. Do ponto de vista eclesial e cultural transmite-nos  um legado de futuro”, afirmou D. José Tolentino Mendonça.

O cardeal português classificou como “extraordinário", o magistério do Papa Bento XVI, onde “não faltam traços de grande alcance espiritual e civilizacional”, sublinhando que, no dia do seu funeral, “é impossível conter o sentimento de gratidão por todos eles”.

“Temos de estar gratos pelo dom da sua vida, da sua inteligência e da sua fé”, vincou.

D. José Tolentino Mendonça afirma que “é natural que cada um, contemplando a figura do Papa Bento, destaque certos aspectos que sente como representativos” e elege três que “parecem constituir traços essenciais do legado espiritual” que deixa à Igreja e à humanidade.

“O primeiro é sem dúvida trazer o anúncio de Deus para o centro da vida. A questão de Deus não pode ser deixada para trás como coisa menor ou até suscetível de ser cancelada. É a questão por excelência quando se pensa que sentido tem ou pode ter o destino humano”, sustenta.

D. José Tolentino Mendonça observa igualmente que, para o Papa emérito Bento XVI, o anúncio de Deus é “urgente no mundo contemporâneo”.

“Não um anúncio de Deus qualquer, mas o anúncio de Deus amor, aquele Deus que Jesus de Nazaré revelou na história. Recordo a esse propósito o impacto, a surpresa e a emoção que despertou a sua encíclica 'Deus caritas est'. Como mestre da fé o Papa Bento era de limpidez e profundidade iluminantes”, acrescenta D. José Tolentino Mendonça.

O cardeal madeirense aponta que outro legado do Papa Bento “tem a ver com o estatuto da fé”. “O Papa Ratzinger ajudou a ver que a fé não deve ser menorizada como se fosse uma coisa pouco credível, se não mesmo irracional. Ele insistiu sim na credibilidade racional do acto de crer ao mesmo tempo que explicava que não podemos reduzir a razão a um racionalismo estreito sem mais, onde só prevalece o empírico”, justifica.

D. José Tolentino Mendonça nota que “Bento XVI não tinha dúvidas que o cristianismo provém de Jerusalém, mas tem de passar por Atenas”.

Em 2010, José Tolentino Mendonça, na altura director do Secretariado Nacional da Cultura, na Conferência Episcopal Portuguesa, liderou a organização do encontro do Papa Bento XVI com o mundo da cultura, no Centro Cultural de Belém.

“Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza”, disse na ocasião o Papa Bento XVI aos representantes do mundo da cultura de Portugal.

Bento XVI morreu no dia 31 de Dezembro de 2022, aos 95 anos, e foi sepultado, a 5 de Janeiro de 2023, na Cripta da Basílica de São Pedro, no Vaticano, após uma cerimónia fúnebre presidida pelo Papa Francisco.

Cerca de 50 mil pessoas assistiram na Praça de São Pedro ao funeral do papa emérito.

Joseph Ratzinger, que foi Papa entre 2005 e 2013, nasceu em 1927 em Marktl am Inn, na diocese alemã de Passau, tornando-se no primeiro alemão a chefiar a Igreja Católica em muitos séculos e um representante da linha mais dogmática da Igreja.

O Papa emérito Bento XVI abalou a Igreja ao resignar do pontificado por motivos de saúde, em 11 de Fevereiro de 2013, dois meses antes de comemorar oito anos no cargo.