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Desflorestação da Amazónia brasileira bateu recorde no último de Bolsonaro

Área de floresta queimada em Apui, Amazónia, Brasil, a 31 de Outubro de 2022.
Área de floresta queimada em Apui, Amazónia, Brasil, a 31 de Outubro de 2022.
, Foto Michael Dantas / AFP

A Amazónia brasileira perdeu 10.267 quilómetros de cobertura vegetal em 2022, uma área equivalente ao Líbano, e um valor recorde no desmatamento da maior floresta tropical do mundo no último ano do governo do Presidente Jair Bolsonaro.

Segundo anunciou o Instituto Nacional de Estudos Espaciais (INPE), a área de selva na Amazónia brasileira devastada no ano passado foi 24,9% maior do que a destruída em 2021 (8.219 quilómetros quadrados) e a maior desde que aquele departamento oficial começou a medir em 2015 os chamados alertas de desmatamento.

Até agora, o ano de maior desmatamento tinha sido 2019 (9.178 quilómetros quadrados), justamente o primeiro sob a gestão do líder de extrema-direita, que os ambientalistas acusam da atual crise na Amazónia devido à sua retórica contra o ambiente, a sua defesa da mineração até nas reservas, e desmantelamento dos órgãos de controlo.

Os dados divulgados são medidos pelo Deter, mecanismo que usa imagens de satélite para alertar mensalmente e em tempo real as áreas ameaçadas na Amazónia, mas que são menos precisos que os do Prodes, ferramenta que o INPE usa para calcular o desmatamento e cuja divulgação é feita anualmente.

Segundo o último boletim do Prodes, divulgado em novembro, a Amazónia perdeu 11.568 quilómetros de vegetação entre agosto de 2021 e julho de 2022, uma extensão 11,3% menor que a do período homólogo anterior (13.038 quilómetros quadrados), mas a segunda maior dos últimos 14 anos.

As organizações ambientalistas já haviam alertado que a destruição crescia em ritmo recorde nos últimos meses de 2022 com a expectativa de que Bolsonaro fosse derrotado nas eleições presidenciais de outubro, como acabou por acontecer.

O novo Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que assumiu o cargo no passado dia 01 de janeiro, prometeu que uma das prioridades do seu governo será reduzir novamente ao mínimo o desmatamento na Amazónia, como fez nos seus primeiros governos (2003-2010) e combater incansavelmente a extração ilegal de madeira e a mineração.

A sua ministra do Meio Ambiente, a ambientalista Marina Silva, anunciou esta semana a criação de uma Secretaria no seu ministério dedicada exclusivamente ao combate ao desmatamento.

Segundo dados do INPE, somente entre agosto e dezembro de 2022, foram desmatados 4.793 quilómetros de mata na Amazónia, um valor recorde para aquele período.

Só em dezembro, o desmatamento chegou a 218,4 quilómetros quadrados, um aumento de 150% em relação ao mesmo mês de 2021 (87 quilómetros quadrados) e o maior número para este mês desde o início do governo anterior.

"Os alertas de destruição foram recordes nos últimos meses de 2022, o que deixou o governo Lula com uma taxa que afetará negativamente os números de 2023", já que a medição anual é entre agosto de um ano e julho do seguinte, afirmou o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini.

Para o líder da principal rede de grupos ambientalistas do Brasil, "o governo Bolsonaro acabou, mas o seu desastroso legado ambiental ainda será sentido por muito tempo".