Três mulheres vão dirigir oposição após fim de "governo interino" de Guaidó
A oposição venezuelana deu hoje por terminado o "governo interino" do líder opositor Juan Guaidó e nomeou, pela primeira vez, três mulheres, que estão no exílio, para dirigir o parlamento opositor.
A eleição teve lugar durante uma sessão virtual em que participaram os deputados da Assembleia Nacional eleita em 2015, de maioria opositora, cujo mandato já caducou, mas que continua em funções uma vez que a oposição não reconhece os resultados das eleições legislativas de 2018 onde o chavismo deteve a maioria parlamentar.
O parlamento opositor passa a ser presidido por Dionorah Figuera (exilada em Espanha), com duas vice-presidentes, Marianela Fernández (exilada nos EUA) e Auristela Vasquez (asilada em Espanha), dos partidos Primeiro Justiça, Um Novo Tempo e Ação Democrática, respetivamente.
Durante o debate, Sónia Medina do partido Voluntad Popular, ao qual pertenceu Juan Guaidó, explicou que aquela organização "salvava" o voto, porque as pessoas propostas para dirigir o parlamento estavam todas no exílio.
"A luta dos venezuelanos é no terreno, na Venezuela. Hoje estamos fazendo uma concessão ao regime, à ditadura, pois estamos a deixar o povo sozinho", disse Sónia Medina.
A opositora saudou que três mulheres assumam a direção do parlamento opositor, mas questionou que longe de ser uma boa notícia em termos de igualdade de género, estas deputadas só tenham sido reconhecidas e nomeadas para altos cargos no meio da pior conjuntura política pela qual passa a oposição após a eliminação da "presidência interina".
"Hoje, nós mulheres, sentimos um reconhecimento, só lamentamos que este reconhecimento não tenha sido dado noutra altura, que se constitui uma junta de direção de mulheres produto das decisões tomadas pelos chefes dos partidos políticos, que hoje não dão a cara ao país", disse.
Sónia Medina lamentou ainda que esse reconhecimento seja "o produto da irresponsabilidade dos que tomaram o caminho inconstitucional", eliminando o "governo interino" de Juan Guaidó e apelou à nova direção a "não cometer o erro de invadir os poderes do executivo".
Por outro lado, questionou que Auristela Vásquez seja deputada suplente de Jorge Millán, que se demitiu do cargo, mas estava presente na sessão, recebendo como resposta da opositora Dinorah Figuera que "em nenhuma parte a Constituição fala da objeção de que uma deputada suplente seja vice-presidente, pelo que tem toda a legitimidade".
Durante a sessão Dinhorah Figuera convocou uma nova sessão do parlamento opositor para o próximo 10 de janeiro para conformar a Comissão Delegada que assumirá as funções que tinham sido confiadas ao "governo interino".
Esta Comissão Delegada fará parte do recém-criado Conselho de Administração e Proteção de Ativos da Venezuela no estrangeiro e terá ainda "competências especiais" para "promover a transição democrática".
Em 30 de dezembro último a oposição venezuelana decidiu, pôr fim ao "governo interino" de Juan Guaidó e prolongou por mais um ano a existência do parlamento opositor eleito em 2015.