Diálogo de Ano Novo
- Olá, meu amigo. Já tinha saudades de falar contigo. Diz-me lá como foi o teu Natal e a passagem do Ano velho para o Ano Novo. Foi prazeroso?
- A quadra Natalícia é sempre uma delícia. As missas do parto, depois a noite do mercado, o convívio familiar, as comidas tradicionais que têm sempre um diferente paladar, e, aqui e ali, um copinho a mais para fechar e ajudar a celebrar.
- Fico feliz por ter decorrido tudo bem e um copinho a mais faz parte da FESTA também.
- Só que o Fim do Ano é que foi a “pobreza de um franciscano”!
- Oh, diabo, mas que te aconteceu de errado?
- Vieram os meus familiares da Austrália; minha nora, meus netos, meu filho que, desta vez até trouxe a sogra e o sogro e, raios partam o diabo, não conseguiram ver o fogo.
- Mas que aconteceu aos teus parentes? Estavam doentes?
- No lugar onde estavam só viam uma fumaça e de fogo não viram nada.
- E qual foi a desculpa que deram para essa desgraça?
- A justificação dada até ao momento, é que a culpa foi do (mau) tempo.
- Mas nesse caso os teus familiares têm direito a pedir ao Governo da Região uma indeminização. Quando a culpa é do tempo eles dão uma indeminização ou subsidio a tudo, desde as más colheitas das batatas, alfaces, tomates até às árvores de fruto.
- E achas, amigo, que eles vão atender ao nosso pedido?
- Sabes, este é um ano de eleições, logo que estão cheios de atenções e para tudo têm soluções.
- Não custa nada tentar, mas otimistas não vamos, devo confessar.
- Ameaçam ir com o principal partido da oposição, que há quase 50 anos quer a Região governar, que lá eles vão fazer tudo para vos ajudar.
- Foi bom ter-me encontrado contigo. Aliás, é sempre bom ter um amigo!
- Neste País, ganhar eleições – para muito boa gente – é como sair-lhe o Euromilhões…pago às prestações.
- Pois, daí terem todas essas considerações?
- Aí é que está, estás a ver como chegas lá. E mais, o avião que trouxe os teus familiares da Austrália é de nacionalidade portuguesa?
- Sim, com certeza.
- Então, se falharem os apoios do Governo da Região e do maior partido da oposição, pedem uma indeminização à TAP, mas vão depressa enquanto este País está a saque.
Que estar a saque – valha a verdade – já está de há muitos anos a esta parte, mas em Portugal isso é uma coisa normal, ninguém leva a mal. Eu às vezes fico com a convicção de que essa coisa do “saque” faz parte da Constituição.
- Bom, se assim é – e dizes com tanta firmeza – eu já vou acreditando que a minha família vai ter uma compensação, um subsídio ou uma indeminização para aliviar-lhes as despesas.
- Claro. Vir da Austrália cá para ver fumo e nevoeiro em lugar do fogo, o dano não é pouco.
E por coisas muito menores já vi, ouvi e li subsídios muito maiores.
- Bom amigo, foi um prazer estar contigo, tem um ANO NOVO feliz, com a saúde que é preciso.
- Para ti também e para os teus. Vai com DEUS.
Juvenal Pereira