Jornal Expresso marca 50 anos de vida com conferência "Deixar o Mundo Melhor"
O jornal Expresso faz 50 anos na sexta-feira, data que será assinalada com a conferência "Deixar o Mundo Melhor", numa semana em que o título passa a ser depositado em formato digital na Biblioteca Nacional.
Em 06 de janeiro de 1973 nascia o Expresso, inspirado nos jornais de domingo de qualidade ingleses The Sunday Times e o The Observer, num ano em que os principais media estavam "nas mãos de proprietários afetos ao Governo", como recorda o fundador Francisco Pinto Balsemão, no seu livro "Memórias".
"O que me fascinava e quis reproduzir em Portugal era o tipo de jornalismo que praticavam, a separação clara entre notícias e opinião, a dimensão dos textos consoante a importância efetiva dos assuntos, a cobertura internacional e as páginas económicas", conta.
O jornalista, empresário e político relata os passos que foram dados para lançar o Expresso, além de episódios como corte de publicidade do BCP e BES, entre outros.
"Na origem da conceção e do arranque do Expresso estava a minha vontade de provar a mim próprio, à família e ao mundo que era capaz de lançar e fazer triunfar um projeto inovador na área da imprensa", afirma.
Na altura, com 34 anos, "queria sair de vez" das "asas protetoras" da família, "acreditava nas virtualidades de um semanário diferente, inspirado no jornalismo anglo-saxónico, que chegasse aos portugueses do continente e das ilhas e aos portugueses residentes nas colónias ou para aí mobilizados, em consequência da guerra", conta.
E que, "mais do que isso, viesse a ser considerado, como foi desde o início e é, uma voz respeitada e citada em Portugal e no estrangeiro". Isto sem esquecer "uma paixão pelo jornalismo", a qual "felizmente se mantém, sem quebrar, até hoje, e a vontade de continuar a alimentar, como opção políticas e ideológica, a existência da terceira via criada por uma então já decadente Ala Liberal", salienta Francisco Pinto Balsemão.
Sobre o nome do jornal, o fundador relata que este título "tinha poucos adeptos" entre os seus amigos e conhecidos e até "dentro da própria equipa já contratada".
"Convenceram-me", diz, a mandar fazer um estudo de mercado: "E os resultados para a minha causa não foram bons: a maioria dos inquiridos associava a palavra 'expresso' a ... comboios e não gostava dela para título de publicação".
Contudo, "não cedi, ficou mesmo Expresso. E, pelos vistos, bem'", conclui Francisco Pinto Balsemão.
Lançado com o 'slogan' "Expresso - o semanário dos que sabem querer", o título nunca vendeu "menos de 60.000 exemplares", mas nem sempre tudo foi um 'mar de rosas' na sua relação com a censura.
Francisco Pinto Balsemão conta a um episódio pouco tempo depois de o jornal ter sido lançado, algures no final de maio de 1973.
"Fui a Espanha, creio que em serviço de reportagem, e Marcelo Rebelo de Sousa [atual Presidente da República], numa atitude perfeitamente inconsciente e pouco inteligente, armado em 'enfant terrible', convenceu Augusto de Carvalho a desrespeitar dois ou três cortes dos censores, incluindo no jornal as peças cortadas que se destinavam à edição de 02 de junho".
E as consequências "foram fatais", ou seja, "castigo de provas de página", sendo que em vez de mandarem uma a uma, individualmente, foram obrigados "a tirar provas de página inteira e eram essas provas de página que os censores analisavam", aponta.
Em 1987, o Expresso ultrapassou, pela primeira vez, os 100.000 exemplares vendidos.
O Expresso, prossegue, tinha como objetivo de ao sábado "apresentar sempre o essencial de sexta-feira" e dispensar a compra de um diário.
"Um das minhas divergências graves com José António Saraiva, quando este era diretor do Expresso, foi por ele não ter noticiado, na primeira página e com o devido relevo, um acontecimento de grande importância, o bloqueio da ponte 25 de Abril, que ocorreu numa sexta-feira, 24 de junho de 1994", confidencia.
No livro, Francisco Pinto Balsemão conta ainda que o BCP "cortou, por duas vezes, a publicidade no Expresso", relatando os convites de almoço do então presidente da instituição Jorge Jardim Gonçalves no banco, onde a conversa não era animada.
"Claro que, como noutros casos, ao fim de algum tempo o BCP reconhecia que precisava do Expresso para dar a conhecer os seus serviços e retoma a publicidade", diz.
No entanto, há que "salientar o do corte total pelo Grupo Espírito Santo [GES], em 2005, da publicidade em todos os meios da Impresa, incluindo, portanto, os vários canais da SIC e as revistas", tudo por 'culpa' do Expresso, por causa "de dois artigos de opinião, publicados em abril de 2004 e fevereiro de 2005".
O primeiro era sobre o caso Galp e a venda de ativos a estrangeiros e "acusava o GES de 'atitudes pouco nacionalistas'" e o segundo "criticando Ricciardi no processo de venda da Lusomundo Media - e também por causa de uma notícia sobre o alegado caso do envolvimento do BES no 'mensalão' do Brasil".
Mas "mais uma vez aguentámos firme e prosseguimos a nossa investigação jornalística", assevera, sendo que algumas semanas depois "Ricardo Salgado compreendeu que tinha errado".
Segundo dados da APCT, entre janeiro e setembro do ano passado, o Expresso foi a publicação mais vendida em Portugal.
"Há seis anos que o Expresso é o jornal mais vendido em Portugal", de acordo com um comunicado de novembro, com uma circulação paga de quase 95.000 exemplares, liderando "as vendas em banca com mais de 46.000 exemplares vendidos" e "nas vendas digitais com quase 47.000 exemplares".
Os 50 anos do Expresso - a pouco mais de um ano de se celebrar meio século da Revolução dos Cravos - são marcados pela conferência "Deixar o Mundo Melhor", onde marcarão presença várias personalidades da atualidade nacional, da política ao desporto, passando pela economia e humor, entre os quais Mário Centeno, António Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa.