Dificuldades em garantir emprego e vistos fazem regressar migrantes à Venezuela
Dificuldades no acesso a serviços básicos, em conseguir emprego, obter vistos e regularizar o estatuto de imigração estão a levar centenas de venezuelanos a regressarem à Venezuela, após procurarem melhores condições de vida em outros países.
Essas razões são descritas no relatório "Retornado à Venezuela: Motivações, Expectativas e Intenções", divulgado na semana passada pela orhanização não-governamental (ONG) The Mixed Migration Center (4Mi), com base em 269 entrevistas realizadas presencialmente a cidadãos venezuelanos que pretendiam regressar, 173 delas nas cidades colombianas de Bogotá e Cúcuta e 96 no Peru, no município de Desaguadero, fronteiriço com a Bolívia.
"60% dos inquiridos eram homens e 40% mulheres. 76% tinham entre 26 e 35 anos de idade. 34% regressavam da Colômbia e 30% do Chile. Uma pequena proporção regressava à Venezuela desde o Peru (14%), do Equador (13%) e da Bolívia (6%)", explica-se no relatório.
Segundo o 4Mi, "80% dos refugiados e migrantes inquiridos, que regressavam à Venezuela, tentou estabelecer-se em apenas um país de acolhimento" e 66% deles "tinha um estatuto migratório irregular no país de acolhimento", enquanto "menos de 6% eram oficialmente residentes temporários".
"61% deles permaneceram no país de acolhimento entre seis meses e dois anos, o que poderia ser uma prova das dificuldades que enfrentaram para se estabelecerem nestes países a longo prazo", sublinha-se no documento.
O relatório precisou que 71% deles deixaram o país de acolhimento devido a pelo menos um ou mais destes fatores: "acesso insuficiente aos serviços, (27%), dificuldades em ganhar a vida (26%), integração (23%), regularização do seu estatuto migratório (22%)".
"Em paralelo, 81% deles mencionou que regressavam à Venezuela para se reunirem com a sua família e amigos e 63% por ter saudades de casa", explica-se.
Por outro lado, 45% afirmou estar motivado a regressar devido "à melhoria da situação económica no seu país", para iniciar um novo negócio ou investir (19%), ou por oportunidades de emprego (11%).
"Mesmo antes de regressarem à Venezuela, 27% dos inquiridos declararam ter a intenção de migrar novamente, ou para o seu último país de acolhimento ou para outro país", acrescenta-se.
Segundo o relatório, 38% dos inquiridos tinham emigrado sem membros da família e estavam a regressar à Venezuela sozinhos, um resultado que está de acordo com a dinâmica da primeira fase da migração venezuelana em que os movimentos mistos estavam compostos principalmente por homens solteiros que deixaram o seu país para explorar a possibilidade de se estabelecerem noutro país e apoiarem as suas famílias.
"31% regressaram à Venezuela com todos os membros da família, e 28% apenas com parte da sua família", explica-se.
Por outro lado, segundo o 4Mi "a discriminação nos países de acolhimento é também considerada por 23% dos inquiridos como o fator de regresso à Venezuela" em particular venezuelanos que se radicaram no Peru onde "recentes políticas de migração destinadas a facilitar as deportações, o discurso político xenófobo e a deterioração da convivência no país de acolhimento aumentaram as intenções dos refugiados e migrantes venezuelanos de regressar ao seu país de origem".
O relatório referiu ainda 40 casos de venezuelanos que regressavam porque tinham possibilidade de aceder a uma habitação no seu país e porque nos países de acolhimento o preço do aluguer da habitação e o pagamento dos serviços ascendia à quase totalidade dos seus rendimentos.
Segundo o 4Mi, em 76% dos casos os venezuelanos manifestaram que o maior desafio de regressar "é garantir a subsistência", o acesso a água (57%), enquanto para 28% dos casos era a "sensação de fracasso e vergonha", e 23% o acesso à saúde.
Por outro lado, para 17% era a violência e insegurança, 15% o reunir-se com a família, 12% as violações e abusos dos direitos humanos, 12% dívidas, 6% o acesso à Justiça, 3% recuperar a sua casa ocupada ilegalmente, 1% a aceitação pela comunidade e a discriminação.
Segundo a Plataforma de Coordenação Interagências da ONU para Refugiados e Migrantes da Venezuela (R4V,) nos últimos anos mais de 7,13 milhões de venezuelanos abandonaram o seu país fugindo da crise política, económica e social local.