HRW pede a Kiev que investigue uso de minas antipessoal contra russos
A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) alertou hoje a Ucrânia para o "aparente uso" pelas suas forças armadas de minas antipessoal durante a batalha para libertar Izium da ocupação russa.
"A Ucrânia deveria investigar o alegado uso, pelo seu exército, de milhares de minas antipessoal, disseminadas por 'rockets' dentro e ao redor da cidade de Izium, quando as forças russas ocupavam a região", pede a HRW num relatório hoje divulgado, lembrando que as forças russas têm usado minas antipessoal em muitas partes da Ucrânia desde o início da invasão há quase um ano, mas que este tipo de armas é proibido.
A organização adiantou ter documentado em Izium numerosos casos de "minas borboleta", de fabrico soviético, lançadas a partir de 'rockets' e encontradas em nove zonas onde as forças russas estiveram localizadas, sugerindo que os russos eram precisamente "os alvos".
"As forças ucranianas parecem ter implantado minas extensivamente na cidade de Izium, causando baixas civis e criando um risco contínuo", afirmou o diretor do departamento de armas da HRW, Steve Goose, citado no relatório.
"As forças russas usaram repetidamente minas antipessoal e cometeram atrocidades em todo o país, mas isso não justifica o uso de armas proibidas pela Ucrânia", acrescentou.
As minas 'butterfly' (PFM-1S), de cor verde ou castanha, são preenchidas com 37 gramas de líquido explosivo e normalmente equipadas com um sistema de autodestruição após 40 horas, mas o mecanismo costuma ter defeitos, lembra a HRW.
A cidade de Izium foi retomada pelas forças ucranianas em meados de setembro, depois de mais de cinco meses de ocupação russa.
A HRW realizou uma investigação na zona entre de 19 de setembro a 09 de outubro, entrevistando mais de 100 testemunhas e identificando 11 vítimas de minas.
De acordo com os serviços de saúde locais, ouvidos pela HRW, cerca de 50 civis, incluindo pelo menos cinco crianças, foram provavelmente feridos por estas minas durante ou após a ocupação russa, sendo que metade sofreu amputações de pés ou pernas.
A Ucrânia faz parte do tratado internacional de 1997 que proíbe as minas antipessoal, ratificado em 2005, lembra a organização de defesa dos direitos humanos, que pede a Kiev para abrir uma investigação e destruir as suas reservas desta arma.
A Convenção de Otava, que entrou em vigor em 1999, conta com 164 Estados-membros, lista da qual não fazem parte os Estados Unidos, a Rússia e a China.
Questionado pela HRW sobre as conclusões do relatório, o Ministério da Defesa da Ucrânia referiu que os seus militares cumprem as suas obrigações internacionais, mas sublinhou que informações sobre os tipos de armas usadas "não serão comentadas até ao final da guerra".