Produção de gás na África subsaariana cresce para 135 mil milhões de metros cúbicos em 10 anos
A consultora Fitch Solutions considerou hoje que a produção de gás na África subsaariana subirá de 80,5 mil milhões de metros cúbicos para 135,2 em 2032, com Moçambique a ser um dos principais exportadores.
"A nossa perspetiva para a evolução da produção de gás natural na África subsaariana é positiva; prevemos que a produção aumente dos atuais 80,5 mil milhões de metros cúbicos para 135,2 mil milhões de metros cúbicos em 2032, com a maior área de investimento na região nos próximos anos a ser a expansão da capacidade de exportação de gás natural liquefeito [LNG, na sigla em inglês]", escrevem os analistas.
Num relatório sobre o setor do gás natural na região, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, estes analistas da consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings destacam Moçambique, mas também Nigéria, Mauritânia e Senegal, como os grandes impulsionadores da subida de produção e exportação de gás natural.
"O projeto FLNG Coral, da Eni, é o primeiro de três projetos planeados para Moçambique, e deverá entrar em funcionamento no segundo semestre deste ano, posicionando Moçambique como um produtor e exportador líquido de LNG", escrevem, alertando, no entanto, que a situação de insegurança no norte do país continua a colocar um grande risco para o regresso das operações da TotalEnergies e para a Decisão Final de Investimento da ExxonMobil.
"Antevemos que o primeiro gás da TotalEnergies comece a ser produzido em 2016 e a que a Decisão Final de Investimento da ExxonMobil ocorra este ano, com a primeira produção em 2017", escrevem, acrescentando, ainda assim, que "as incertezas sobre a resolução dos ataques dos insurgentes colocam estas previsões cada vez mais em risco".
A região da África subsaariana está "bem posicionada para beneficiar do aumento da procura do seu gás", sublinham, lembrando as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia e a vontade dos europeus de diversificarem as fontes de compra de gás, procurando afastar-se do gás russo.
Neste contexto, a Nigéria será fundamental, uma vez que vai representar quase metade da procura interna de gás na região, que precisa de mais infraestruturas para potenciar a procura por parte dos seus habitantes locais, algo que os decisores políticos já perceberam e estão a tentar resolver, nota a Fitch Solutions.
"A expansão da infraestrutura de gás natural é crucial para potenciar a procura na região; alguns mercados na região estão lentamente a fazer progressos neste sentido", dizem, apontando o exemplo de Moçambique, que planeia construir a partir do princípio deste ano um "terminal de importação de gás no sul [Matola LNG] que daria ao país uma fonte fiável de fornecimento de gás para assegurar a crescente procura".
Na nota, os analistas concluem que "apesar de haver custos iniciais substanciais na fase de construção, expandir a infraestrutura de importação de gás natural liquefeito é essencial para desbloquear a procura de gás natural na região" e fomentar a exportação.
Moçambique tem três projetos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.
Dois desses projetos têm maior dimensão e preveem canalizar o gás do fundo do mar para terra, arrefecendo-o numa fábrica para o exportar por via marítima em estado líquido.
Um é liderado pela TotalEnergies (consórcio da Área 1) e as obras avançaram até à suspensão por tempo indeterminado, após um ataque armado a Palma, em março de 2021, altura em que a energética francesa declarou que só retomaria os trabalhos quando a zona fosse segura.
O outro é o investimento ainda sem anúncio à vista liderado pela ExxonMobil e Eni (consórcio da Área 4).
Um terceiro projeto concluído e de menor dimensão pertence também ao consórcio da Área 4 e consiste numa plataforma flutuante de captação e processamento de gás para exportação, diretamente no mar, que arrancou em novembro de 2022.
A plataforma flutuante deverá produzir 3,4 mtpa (milhões de toneladas por ano) de gás natural liquefeito, a Área 1 aponta para 13,12 mtpa e o plano em terra da Área 4 prevê 15 mtpa.
A província de Cabo Delgado é aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.
Desde julho do ano passado, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.