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Crónicas

Ser ilhéu à distância

Sei que serei sempre do lugar onde cresci - Porto Moniz

Leitor (muito) preguiçoso me confesso, sem orgulho. Se não é mentira que livros há à minha mesa-de-cabeceira, mais verdade existe na letargia do desfolhar dessas páginas que tanto têm para contar. Muitos livros oferecem em si um bilhete sem destino, um convite para viajar.

“Ilha grande fechada” do autor açoriano Daniel de Sá foi um desses livros que me transportou para longe, mas que me devolveu a casa. Tenho tantos anos de Madeira como fora dela (somando todos os regressos a vivência insular ainda ganha) e sei que serei sempre do lugar onde cresci - Porto Moniz. No livro há uma frase - “Sair da ilha é a pior maneira de ficar nela” - que resume magistralmente essa vivência do ilhéu que sente a presença na ausência, o apego na distância, o orgulho nas conquistas de terceiros. Estar longe é também estar perto, acompanhando a vida e os acontecimentos à distância, mas com interesse, talvez até maior. Nos primeiros anos pareciam-me dois mundos, dois tempos que não se cruzavam, sem continuum, e algures naquela viagem de avião fazia-se a passagem de um lado para o outro. Hoje esta hipótese não me faz menos sentido, mas sair da ilha é ter mais Madeira onde estou e para onde vou.

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