Terapia de choque
Debate de hoje, na Francisco Franco, sobre “o valor da democracia” adoentada permitiu a partilha de alguns remédios. A dosagem vai depender de quem tiver a missão de liderar os cuidados intensivos
Boa noite!
O presidente da República começou o ano a alertar para a necessidade da democracia ir à consulta de rotina, pois entende que esta "precisa, mais do que nunca, de ser cuidada". Para não destoar, o presidente do parlamento madeirense tem dito que “a democracia está doente e precisa de terapias”.
Hoje, na Escola Secundária Francisco Franco, repetiu o que já havia dito no arranque da semana, mas aproveitou o facto de estar perante jovens que analisavam “o valor da democracia” para admitir haver défice de ética e de transparência no sistema.
José Manuel Rodrigues sabe do que fala. Convive todos os dias com alguns deputados que atraiçoam o voto, que escondem o jogo, que acumulam funções, que desconhecem as leis, que produzem barbaridades, que são cúmplices das liberdades condicionadas, que protegem o seu e os seus, que se acomodam ao conforto do mandato, da imunidade e da impunidade e que até fomentam a desvalorização orquestrada do papel dos jornalistas, a quem incessantemente imploram espaço, destaque e favores.
Perante tamanho diagnóstico, foram-lhe sugeridos remédios, com a dosagem ao critério de quem tem a missão de curar as ameaças à liberdade e à responsabilidade. A coerência dos eleitos e o espírito crítico dos eleitores; o empenho na participação cívica por parte dos cidadãos e a elevada exigência de seriedade em relação aos poderes; o escrutínio sistemático dos governos e das oposições e a necessária formação que garanta a qualidade dos desempenhos foram alguns dos desafios feitos para que a democracia não definhe nas mãos daqueles que dela mais precisam.
Na Região Autónoma do “défice democrático” é mais fácil criar perfis falsos do que dar a cara, ajustar contas com base em denúncias anónimas do que ser justo sem medo, votar por tradição do que em consciência e deixar para terceiros do que fazer o que nos cabe. Também por isso é que não tem havido alternância no poder regional.
Nem de propósito, hoje, um outro centrista, o ex-secretário de Estado, Paulo Núncio partilhava no Observador um retrato cruel da realidade política nacional. “Muitos partidos enchem o espaço mediático com críticas às opções socialistas, mas não têm a mínima das noções do que é governar Portugal. E o país, depois do desnorte socialista, precisará de partidos com credibilidade, experiência governativa e provas dadas, principalmente em momentos difíceis. Porque os tempos que aí vêm não vão ser nada fáceis.”
Com as devidas diferenças, mas tendo em conta o estilo de protesto em que quem não manda se especializou, a Madeira corre o risco de continuar ligada à mesma máquina de sempre.