Governo do Peru promete investigar "possíveis excessos" das forças policiais e militares
O Governo peruano assegurou hoje perante o Conselho de Direitos Humanos da ONU que investigará "possíveis excessos" das forças policiais e militares nos atuais protestos, mas acusou "grupos minoritários" de exercerem "violência indiscriminada".
"Se houve algum excesso, vai ser investigado", disse na sua intervenção Luis Chuquihuara, embaixador peruano na ONU em Genebra, ao destacar que as autoridades tentaram "responder dentro dos parâmetros internacionais de resolução de conflitos desta natureza".
"O Peru está comprometido com os protestos sociais pacíficos, mas quando algum grupo minoritário de manifestantes recorre à violência contra bens do Estado e outros cidadãos, as forças da ordem tentam restaurar a paz social", declarou o diplomata.
Através de videoconferência a partir do Peru, a delegação governamental liderada pelo novo ministro da Justiça e Direitos Humanos, José Tello, lamentou as mortes até ao momento (mais de 60, para além de centenas de feridos e detidos), mas assegurou que "o protesto não pode confundir-se com ações delitivas".
O ministro também assegurou que apesar dos veementes protestos -- motivados pela impugnação e detenção no início de dezembro do então Presidente Pedro Castillo, acusado de tentar promover um "golpe de Estado" através da dissolução do parlamento --, as autoridades peruanas "reconhecem" as exigências dos manifestantes, que "são parte de uma dívida histórica com regiões e setores da população marginalizados".
Também indicou que algumas das exigências de reformas políticas e eleitorais dos protestos estão a ser atendidas, incluindo a antecipação das eleições legislativas previstas para 2024, caso seja aprovada em segunda votação no parlamento.
"O nosso compromisso é conduzir uma transição política com os braços estendidos a todos os atores legítimos na base do diálogo", assegurou o ministro, que também se referiu à formação de uma comissão para "apoiar as vítimas dos protestos".
Esta sessão foi acompanhada em Genebra pela líder indígena peruana Lourdes Huanca, que destacou em posterior conferência de imprensa que, no Conselho, "25 países se manifestaram contundentemente pedindo o fim dos abusos dos direitos humanos no nosso país".
Perante as promessas de diálogo com os manifestantes, a líder indígena, presidente da Federação Nacional das Mulheres Camponesas, Artesãs, Indígenas e Assalariadas do Peru, deixou uma interrogação: "Se estão dispostos a dialogar porque continuam a matar e a disparar contra pessoas?".
Huanca reuniu-se nos últimos dias com responsáveis oficiais em Madrid, Bruxelas, Berna e hoje em Genebra, para defender as reivindicações do movimento de contestação, que incluem a libertação do ex-presidente de esquerda Castillo e a demissão da sua sucessora Dina Boluarte.
A crise política que abala o Peru é também reflexo do enorme fosso entre a capital e as províncias pobres que apoiam Castillo, de origem ameríndia, e que nunca foi aceite no Palácio Presidencial pela elite e a oligarquia da capital, e pelos principais 'media', na posse de abastados empresários.