Suécia e Finlândia farão o possível para aderir à NATO em conjunto
A Finlândia e a Suécia pretendem aderir em conjunto à NATO mas não se pode excluir uma adesão em separado ou aguardar pelo resultado das eleições turcas em maio, disse à Lusa o investigador Arkady Moshes.
"Existe um consenso de que por motivos políticos, militares, logísticos, técnicos, faria sentido uma adesão em conjunto. Se o preço consistir em esperar até às eleições na Turquia em maio, sem problema, porque até esse período as garantias de britânicos e norte-americanos vão permanecer em força", indicou em entrevista à agência Lusa o diretor do programa para a Europa de leste e Rússia do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais (FIIA), sediado em Helsínquia.
Arkady Moshes fazia uma referência à posição da Turquia que, a par da Hungria, é o único dos atuais 30 Estados-membros da NATO que ainda não forneceu o aval a nível interno à integração, e com o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, a anunciar que o país euro-asiático vai rejeitar a adesão sueca devido às crescentes tensões entre Ancara e Estocolmo.
Neste contexto, o académico não exclui a adesão da Finlândia sem a Suécia, mesmo que considere como "provavelmente apressadas" as recentes declarações nesse sentido emitidas pelo chefe da diplomacia de Helsínquia.
"Numa perspetiva analítica não pode ser excluída, mas tudo será feito para uma adesão em conjunto. Finlândia e Suécia farão os possíveis por aderirem à NATO em conjunto. É também a perspetiva dos aliados, da Noruega aos Estados Unidos", precisou Arkady Moshes, 56 anos, também membro do Programa de Novas Abordagens sobre Pesquisa e Segurança na Eurásia (PONARS, Eurásia).
No caso de uma entrada em separado dos dois países nórdicos na aliança militar ocidental, o investigador assinala que as relações entre Suécia e Finlândia não serão prejudicadas.
"Ambos entendem que a sua cooperação é de extrema importância em termos estratégicos e práticos. Mas é uma situação hipotética, neste momento é necessário partir da premissa de que vão aderir em conjunto, apesar de talvez ser necessário esperar até maio", disse o académico, numa alusão às decisivas eleições legislativas e presidenciais que vão decorrer na Turquia.
Numa referência à ajuda militar à Ucrânia pela Finlândia, um país fronteiriço da Rússia e que desde há décadas mantém estreitos contactos e envolvimento em exercícios militares com membros da NATO, Arkady Moshes assinala o recente pacote decidido pelo Governo de Helsínquia.
"É muito importante perceber a forma como a Finlândia está envolvida, porque acabou de aprovar um novo pacote de ajuda militar à Ucrânia sem precedentes, de 400 milhões de euros. É muito dinheiro para a Finlândia, nos últimos dez meses disponibilizou à Ucrânia cerca de 200 milhões de euros, agora 400 milhões e começou a preparar de imediato o próximo pacote", revelou.
Uma decisão que, segundo o académico, sublinha o "nível de solidariedade e de apoio público" e quando já se completaram 11 meses de guerra, na sequência da invasão militar russa de 24 de fevereiro de 2022.
"O Governo da Finlândia e a sua opinião pública possuem números recordes em toda a Europa sobre a questão da necessidade em apoiar a Ucrânia", frisou.
"E isso pode entender-se por existir uma espécie de similaridade histórica em discursos que comparam a invasão da Finlândia por Estaline [em 1939] com a invasão da Ucrânia por Putin", prosseguiu.
A comparação entre a designada "guerra de inverno" de 1939 -- com cerca de 200.000 baixas no então Exército Vermelho contra 25.000 entre os finlandeses, apesar de o país escandinavo ter perdido parte do seu território -- e o atual conflito na Ucrânia motivou uma forte reação do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, que negou qualquer ambição territorial face ao seu vizinho nórdico.
"Mas é isso o que as pessoas sentem neste país, e por isso necessita ser entendido", precisou.
O académico indica que o debate na Finlândia sobre esta questão "é muito calmo", e que as declarações dos responsáveis políticos e militares "não estão a provocar ansiedade" e que, pelo contrário, "basicamente referem que a atual situação militar não é ameaçadora".
Na perspetiva de Helsínquia, o envolvimento das Forças Armadas russas na Ucrânia impede que promovam novas ações nas fronteiras de outros países.
"Mas pode não ser sempre assim, é por isso que a Finlândia quer aderir à NATO e antes disso comprou novo armamento aos Estados Unidos, incluindo aviões de combate", mesmo que o país encare a situação com "serenidade e ausência de pânico", destacou.
"A análise que está a ser transmitida à população é tranquilizante e sensata", reforçou.
Numa referência a outros países fronteiriços da Rússia, em particular os três Estados do Báltico, ex-repúblicas soviéticas, e mesmo a Polónia, que mantém relações particularmente tensas com Moscovo, o investigador também transmitiu um sinal de serenidade.
"As capacidades russas estão a ser de tal forma empregues na Ucrânia que para outros países a situação não é particularmente ameaçadora", afirmou.